Quinta-feira, 15 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 14 de maio de 2025
Sexismo, racismo e etarismo (ou idadismo, como preferem alguns) são três grandes preconceitos que moldam nossas relações cotidianamente. Agora, o etarismo é a bola da vez.
Demoramos a perceber que mulheres e pessoas negras (pretas e pardas) representam a maioria da população brasileira — isso, se de fato já percebemos. E, agora, estamos finalmente nos dando conta de que o Brasil, antes considerado um país jovem, envelheceu.
Atualmente, um terço da população economicamente ativa tem mais de 45 anos, e 10% da população tem mais de 65 anos. Movimentos que promovem o debate sobre a longevidade têm ganhado espaço no mundo todo, mas preconceitos são difíceis de superar e exigem mudanças pessoais e sociais profundas.
No Brasil, esse rápido envelhecimento decorre do aumento da expectativa de vida e da redução no número de filhos por casal, o que impacta diretamente a composição da força de trabalho. Paralelamente, outros fenômenos ocorreram: em cinquenta anos, a maioria da população migrou da zona rural para as cidades.
Mais recentemente, com a mudança de mentalidade provocada pela intensa difusão das mídias sociais e pela pandemia, observa-se uma população — jovens e idosos — mobilizada por interesses que vão além da identidade construída apenas no trabalho. Falta mão de obra jovem nas indústrias, enquanto trabalhadores com mais de 60 anos são excluídos por diferentes razões, entre elas, o preconceito puro e simples.
As empresas ainda não investem na gestão da diversidade etária, apesar da presença de múltiplas gerações no ambiente corporativo — dos baby boomers às gerações X, Y e Z. Estereótipos cercam todas essas gerações: os boomers seriam resistentes à tecnologia; os jovens da geração Z, pouco comprometidos com o trabalho.
Esses estereótipos, infelizmente, trazem estigmas que não se sustentam quando se observa as individualidades. Profissionais, jovens e idosos, buscam equilíbrio entre vida pessoal e profissional; ambos lidam bem com tecnologia. A variável que mais pesa nesse aspecto não é a idade, mas a classe social e a renda.
É claro que existe preconceito também contra os jovens, mas os mais velhos enfrentam mais estigmas. O ideal de juventude persiste em um país que já não é tão jovem — um ideal que não reflete mais a realidade demográfica brasileira.
E as mulheres? Na intersecção entre gênero e idade, elas continuam perdendo espaço. Nunca estão “na idade certa”: quando jovens, são jovens demais e têm a beleza como principal atributo; aos trinta, podem ter filhos — o que, no mercado de trabalho, ainda é visto como um problema. Já próximas dos 50, seriam mulheres que “perderam o encanto”.
“Envelhecer para as mulheres não é algo fácil”, afirmou Madonna, em um discurso poderoso de quem enfrentou inúmeras barreiras para alcançar o sucesso. Pesquisas mostram que, estereotipadamente, homens mais velhos são vistos como sábios, experientes e cheios de conhecimento. Já mulheres mais velhas são vistas apenas como velhas.
Atendentes do setor de serviços, por exemplo, muitas vezes inconscientes da própria finitude, ainda dizem frases como: “Vou explicar para seu filho, ele vai entender”, como se mulheres mais velhas fossem incapazes de compreender uma explicação.
Embora o preconceito etário atinja homens e mulheres, no caso feminino ele é agravado pela cobrança estética. Isso é evidente no mercado de cosméticos e cirurgias plásticas — no qual o Brasil é líder —, impulsionado pela busca incessante por juventude e beleza.
Nas relações afetivas, o preconceito também se manifesta. “Os homens podem”, disse certa vez um colega, referindo-se à diferença de idade entre casais. As mulheres, por outro lado, são alvo de críticas quando estão em relacionamentos com homens mais jovens — como foi o caso do presidente francês Emmanuel Macron ou, em âmbito nacional, da apresentadora Fátima Bernardes.
No mundo corporativo, mulheres mais velhas também enfrentam obstáculos relacionados à aparência e perdem status, mesmo quando ocupam cargos de liderança.
Uma das razões para a menor presença feminina no topo das organizações pode estar justamente na questão da idade: mulheres mais velhas têm menos chances diante de homens da mesma faixa etária.
Sem dúvida, queremos viver mais e com bem-estar — e as ciências da vida têm contribuído para isso. Mas qual o preço a pagar? A finitude, a consciência da morte, ainda é um desafio. Como disse Freud, os humanos preferem viver na ilusão. (As informações são do Valor Econômico)
No Ar: Pampa Na Madrugada