Terça-feira, 30 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de setembro de 2025
Para que comecemos a leitura dessa crônica, gostaria que você leitor interagisse junto comigo. Peço um segundo de atenção e um pequeno exercício simples: pense em alguém que você realmente admira, alguém que marcou o mundo ou, então, sua imaginação.
Pode ser um artista, pensador, líder, aventureiro, atleta, não importa…
Pensou? Agora me diga: o que você lembrou primeiro? Foi o saldo bancário dessa pessoa? Ou aquilo que ele ou ela deixou como legado? Ou seja, a sua obra…
Vamos usar como exemplo o incomparável Leonardo da Vinci, um homem que nos falta adjetivos para descrevê-lo, pois foi pintor, inventor, engenheiro, músico, matemático, escritor, arquiteto, dentre outras coisas.
Suas obras atravessaram séculos, não porque tivesse ouro guardado em cofres secretos, muito pelo contrário, segundo os historiadores ele não era bom em administrar dinheiro, pois investiu boa parte de seus lucros em suas invenções. Ainda assim, deixou uma herança razoável para alguns parentes, mas, como não teve filhos, não deixou descendentes diretos, e ninguém mais de sua família se destacou após a sua morte.
Da Vinci não morreu na pobreza, mas não foi o dinheiro que chamou a atenção para sua existência, e sim o legado que deixou. Foi um homem além de seu tempo, ousou sonhar com máquinas que só seriam inventadas quinhentos anos depois, e pintou a Mona Lisa com um sorriso que até hoje ninguém conseguiu decifrar.
Enquanto isso, quantos milionários da sua época se perderam no esquecimento. Donos de terras, de palácios, de verdadeiras fortunas…
Todos eles, em todas as épocas, tiveram seus nomes praticamente apagados da história, porque não deixaram nenhuma obra, nenhum legado, apenas posses que depois foram parar nas mãos de outras pessoas.
Herói ou aventureiro, Aquiles também deixou sua marca
Três mil anos atrás, um dos grandes personagens da história carregava consigo a preocupação de deixar sua marca para a eternidade. Foi o lendário guerreiro grego Aquiles.
Sua escolha entre viver uma vida longa e anônima ou morrer jovem e ser lembrado para sempre revela o quanto ele entendia a força da memória: “Se eu permanecer aqui e lutar ao redor da cidade de Tróia, não voltarei para casa, mas minha glória será eterna; se eu retornar para casa, minha glória será perdida, mas minha vida será longa”.
Conclusão
Confesso que quando era mais jovem eu não dava importância para isso, mas hoje não só sei como também entendo o seu valor. Devemos lutar para deixar nossa marca no mundo. Não é preciso ser nenhum Leonardo da Vinci ou Aquiles, mas fazer algo pelo qual sejamos lembrados ao longo do tempo, não pelos bens que acumulamos, mas pela construção de algo que transcende a própria vida.
O importante em nossa existência são as marcas que ficam, e não as cifras que evaporam ou trocam de mãos. Quem atravessará gerações não será o homem ou o garoto mais rico e bonito do bairro, mas aquele que fez diferença na vida dos outros, às vezes com uma invenção, às vezes com um livro, às vezes apenas com a coragem de existir e resistir sem se curvar à tirania.
Então, a pergunta que fica é: quando no futuro se passarem cinquenta anos, quem vai lembrar do seu nome e por que lembrarão?
Nossa natureza humana é falha, e na maioria das vezes vivemos apenas para o nosso próprio egoísmo.
Mas talvez, justamente por sermos falhos, é que a lembrança de nosso legado se torna ainda mais preciosa, porque podemos sim ser mais do que nossas limitações.
Não somos de ferro, não somos eternos, não somos deuses, somos apenas gente, e tudo o que temos de imortal é aquilo que conseguimos deixar nos corações e mentes dos outros.
Seja em um quadro que atravessa séculos, uma ideia que inspira, uma palavra que consola, ou simplesmente o bem com que alguém se recorda de nós. No fim, a memória é a única herança que desafia o tempo.
E cabe a cada um decidir: ser lembrado pela vaidade que se desfaz como poeira ou pela marca de talento ou bondade que se transforma em eternidade.
“Viva um dia de cada vez, carpe diem”…
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista Gaúcho