Sábado, 02 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 27 de julho de 2025
As tensões entre Brasil e Estados Unidos, elevadas por conta da expectativa de tarifas americanas de 50% sobre exportações brasileiras a partir de 1° de agosto, ganharam um novo elemento: o debate em torno de minérios que são produzidos no Brasil.
Em evento do governo federal em Minas Novas (MG) na quinta-feira (24), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez, em tom de voz elevado, uma defesa da soberania mineral do país.
“Temos nosso ouro para proteger. Temos todos esses minerais ricos para proteger, e aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, afirmou Lula. “A única coisa que eu peço ao governo americano é que respeite o povo brasileiro como eu respeito o povo americano”.
Foi uma resposta ao fato de o encarregado de negócios da Embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, ter manifestado interesse dos EUA em minerais críticos e estratégicos brasileiros, em reunião pedida por ele com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade privada que representa as empresas do setor.
O presidente do instituto, Raul Jungmann, relatou ter respondido que negociações nesse sentido deveriam ser conduzidas pelo governo brasileiro, e não por empresários.
O episódio acontece simultaneamente às negociações entre diplomatas brasileiros e americanos em torno de qual será a dimensão do tarifaço anunciado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros.
Mas a questão mineral também é parte de um xadrez bem mais amplo e complexo: a batalha global por recursos cada vez mais estratégicos para indústrias do presente e do futuro.
Terras raras
Terras raras é o nome que se dá a um grupo de 17 elementos que não são exatamente raros, mas sim de difícil exploração, presentes nos celulares, nas telas, nas turbinas eólicas, nos carros elétricos, nos painéis solares e até nos mísseis supersônicos.
A geógrafa e pesquisadora Julie Klinger, especialista em mineração, detalhou à BBC Reel por que esses elementos se tornaram tão cruciais:
“Eles têm propriedades magnéticas e de condutividade fantásticas, que permitiram a miniaturização dos nossos eletrônicos: para que nossos computadores ficassem do tamanho de celulares e laptops, em vez de serem do tamanho de um prédio. Permitiram também veículos mais eficientes, por simplesmente torná-los mais leves e resistentes ao mesmo tempo”, disse ela, em entrevista concedida em março de 2025.
Outra área em que eles têm papel crescente é na militar. A Otan, aliança militar ocidental, recentemente listou 12 minerais críticos pra produzir caças, tanques, submarinos e mísseis.
A aliança diz que o abastecimento desses minérios, inclusive os terras-raras, é “vital para manter a vantagem tecnológica e a prontidão operacional da Otan”.
E um dos que estão de olho nesse mapa mineral é Donald Trump.
Em março, o presidente americano assinou um decreto que ordena a ampliação da produção de minérios críticos e terras raras.
Além disso, seu governo já demonstrou interesse pela produção mineral de lugares como Groenlândia, Ucrânia, Rússia, República Democrática do Congo — e agora, Brasil.
Brasil: terras raras e nióbio
Nessa corrida global, o Brasil também tem papel importante: o relatório U.S. Mineral Commodity Summaries estima que o país detenha até 23% das reservas conhecidas de terras raras no mundo.
O professor Sidney Ribeiro, do Instituto de Química da Unesp (Universidade Estadual Paulista), explica à BBC News Brasil que o país acumula décadas de pesquisas acadêmicas sobre esses minérios e já faz a mineração de terras raras em Estados como Minas Gerais e Goiás.
Ainda assim, responde por menos de 1% da produção, porque muitas das reservas inexploradas estão em áreas como a Amazônia. Então é enorme o desafio de aproveitar o potencial mineral brasileiro e ao mesmo tempo manter de pé uma floresta já muito degradada.
Além das terras raras, o Brasil tem reservas de outros minérios cobiçados, como o nióbio — usado em ligas metálicas de alta resistência, fundamentais para siderurgia, construção civil, turbinas, trens de alta velocidade, baterias e equipamentos aeroespaciais e militares, como mísseis hipersônicos.
O país concentra cerca de 92% da produção do metal, que é leve e resistente a altas temperaturas e ganhou popularidade na última década, depois de ter sido reiteradamente defendido por Jair Bolsonaro como recurso estratégico para o país.
O maior mercado consumidor do nióbio brasileiro é a Ásia (em particular a China), mas os Estados Unidos têm posição de destaque como quarto maior importador.
O Brasil respondeu por cerca de 66% do que foi comprado pelos EUA entre 2020 e 2023, segundo o mais recente relatório sobre minerais críticos do Serviço Geológico dos EUA (U.S. Geological Survey – USGS), fornecendo 83% do óxido de nióbio que desembarcou no país nesse período e 66% do ferronióbio.
O volume de nióbio importado pelos americanos cresceu de cerca de 7,1 mil toneladas em 2020 para 10,1 mil em 2023.
No Ar: Pampa Na Madrugada