Sábado, 25 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 16 de junho de 2023
Na próxima quarta-feira (21), técnicos da Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa (SMCec) de Porto Alegre farão uma vistoria interna no prédio da Confeitaria Rocco, localizado na esquina das ruas Riachuelo e Doutor Flores (Centro Histórico). O acesso ao imóvel, que é particular, foi acertado durante audiência na 2ª Vara da Fazenda Pública da Capital.
A vistoria será realizada pela Diretoria de Patrimônio e Memória da SMCec e tem por objetivo obter subsídios para elaboração do termo de referência que servirá de base à licitação de um projeto de restauro.
Prefeitura e proprietários foram condenados a restaurar a construção, finalizada em 1912 e tombada em 1997. O processo se deu no âmbito de uma ação civil pública ajuizada em 2006 pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS).
Durante a audiência judicial, o procurador-geral adjunto de Domínio Público, Urbanismo e Meio Ambiente, Nelson Marisco, obteve deferimento de sua solicitação para que a sentença fosse averbada na matrícula do imóvel.
Após a constatação de que elementos decorativos da fachada poderiam desabar, a Procuradoria-Geral do Município (PGM) solicitou o isolamento do local. Um tapume foi instalado, impedindo a aproximação de pedestres. O prédio acumula dívidas de R$ 400 mil em Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
Nelson Marisco ressalta as medidas tomadas pelo Executivo em relação a riscos oferecidos pela fachada da edificação, motivando a intenção de desapropriá-la: “Parece que os donos já demonstraram não ter recursos para arcar com o restauro, então o Município está disposto a buscar uma solução”.
Lugar icônico
Com atividades encerradas em 1968, a Confeitaria Rocco tem sua história ligada ao italiano Nicolau Rocco (1861-1932), que antes de se radicar no Brasil havia trabalhado no afamado café El Molino de Buenos Aires (Argentina). Ao escolher Porto Alegre para fixar residência, em 1892 ele fundou a Confeitaria Sul-América.
Em 1910 ele encomendou ao arquiteto Salvador Lambertini a construção do prédio na Riachuelo com Doutor Flores, prevendo a instalação de fábrica de doces, confeitaria e salão de festas. Lambertini morreu antes da conclusão da obra e os trabalhos foram então finalizados sob a supervisão de Manoel Barbosa Assumpção Itaqui, permitindo a inauguração em 20 de setembro de 1912.
A área total é de 1.560 metros-quadrados, distribuídos em quatro pavimentos. Em estilo eclético com inspiração greco-romana, a configuração externa é de autoria de Giuseppe Gaudenzi e Frederico Pellarin, auxiliado por Gustavo Steigleder. O salão de festas era muito requisitado para banquetes e bailes aristocráticos, devido à qualidade dos serviços e ao requinte decorativo, incluindo pinturas, elementos em mármore e outros atrativos.
No subsolo ficava a fábrica, ao passo que a confeitaria atendia ao público no térreo e o salão funcionava no segundo andar. O terceiro andar abrigava a copa e administração, enquanto o quarto pavimento se dividia entre depósito e terraço com vista para a cidade.
Tombado pela prefeitura em janeiro de 1997, o prédio chegou a ser ocupado por um curso pré-vestibular durante os dois anos seguintes. Nunca mais teve inquilinos desde então e chegou a ser alvo de planos de desapropriação e de reabertura da Rocco – cujo letreiro com o nome do estabelecimento original permanece em ambas as faces visíveis do imóvel.
(Marcello Campos)