Domingo, 23 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 23 de novembro de 2025
Amigos e correligionários de Jair Bolsonaro (PL) já tinham acionado a contagem regressiva para a prisão do ex-presidente, antes mesmo de o ministro Alexandre de Moraes decretar a preventiva neste sábado, 22. Todos sabiam que o momento estava chegando, mas acreditavam que ocorreria entre as próximas terça-feira e quarta-feira.
Apesar do fim inevitável se aproximando, falar da prisão com Bolsonaro e da transferência de seu espólio político para 2026 virou um tabu. “Parece abutre à espreita”, resumiu uma liderança política da direita bolsonarista para expor o desconforto com o tema.
Discutir os palanques estaduais e a corrida ao Planalto com o capitão virou um problema. Seu quadro emocional e clínico cada vez mais prejudicado inibia as abordagens, segundo relato de pessoas próximas ao ex-presidente. Além disso, há as limitações judiciais. Para visitá-lo é preciso autorização prévia de Moraes, e o diálogo entre Bolsonaro e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, está proibido.
“O que vimos nos últimos dias foi uma absoluta desorientação e falta de articulação”, relatou um dos amigos do ex-presidente.
Com Bolsonaro isolado física e politicamente, os filhos reforçaram o entendimento de que somente eles seriam detentores da herança eleitoral do pai.
O exemplo mais evidente é na articulação para o Palácio do Planalto. No começo da prisão domiciliar, em agosto, houve tratativas para o ex-presidente anunciar apoio a Tarcísio de Freitas (Republicanos). Entretanto, alvo dos ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o governador de São Paulo recuou e tem feito movimentos de idas e vindas nas sinalizações sobre a intenção de concorrer ao Planalto.
Eduardo vem colecionando desavenças com antigos aliados. De lá dos Estados Unidos, e sem pretensão de voltar diante do medo de ser preso, ele mantém sua metralhadora verbal contra quem quer que ouse defender outro nome na chapa presidencial que não seja da família Bolsonaro.
O filho zero três já atacou colegas do partido, como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Ana Campagnolo (PL-SC), acusando-os de articular, com outros parlamentares mais jovens, uma tentativa de “se livrar de Bolsonaro”. A discussão mais recente foi com o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil).
Agora, com a prisão de Jair Bolsonaro e sem o tema ter sido resolvido entre os filhos e a centro-direita, o bastão da corrida ao Planalto cai no colo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho zero um. Dificilmente, porém, ele conseguirá unir a direita em torno do seu nome.
A tendência é ver a fragmentação de candidaturas desse bloco político que tem outros interessados na vaga como os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Além disso, há temor de que eventual investigação sobre o senador também inviabilize seu nome.
Na decisão que determinou a prisão de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes deu sinais de que o senador pode ser alvo da Polícia Federal. Ele apontou a vigília convocada por Flávio e o risco de fuga para estabelecer a preventiva.
No texto, o magistrado aponta ainda o tom do vídeo publicado pelo senador e ressalta “o caráter beligerante em relação ao Judiciário, em reiteração da narrativa falsa no sentido de que a condenação do réu Jair Bolsonaro seria consequência de uma ‘perseguição’ e de uma ‘ditadura’ desta Suprema Corte”.
Prisão de Bolsonaro dificulta negociação dos palanques estaduais
A composição de palanques estaduais também virou uma guerra fratricida entre bolsonaristas. Pretensos candidatos desse campo político reivindicam o título de “escudeiro mais fiel” e estremecem acordos. Uma vez mais, é a família Bolsonaro que vai tomando o espaço.
Vereador pelo Rio, o filho zero dois Carlos Bolsonaro impôs sua vontade de disputar o cargo de senador por Santa Catarina e gerou crise com o governador Jorginho Mello e a deputada federal Caroline de Toni. No Distrito Federal, a deputada federal Bia Kicis conseguiu apoio de Michelle e do senador Flávio Bolsonaro para lançar pré-candidatura ao Senado, ignorando acordo anterior para apoio do grupo a Ibaneis Rocha (MDB), atual governador. (Coluna de opinião do portal Estadão).