Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 26 de dezembro de 2022
Preso na noite do último sábado (24) por planejar um atentado em Brasília com um explosivo instalado em um caminhão, George Washington de Oliveira Sousa relatou em seu depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal que a intenção do ataque era provocar as Forças Armadas a decretarem “estado de sítio” e realizarem uma intervenção militar, o que é inconstitucional.
Sousa, que é do Pará e relatou trabalhar como gerente de posto de gasolina, disse que se deslocou a Brasília no dia 12 de novembro para participar das manifestações no quartel-general do Exército e que o plano da bomba foi traçado pelos manifestantes do QG: explodir o artefato no estacionamento do aeroporto de Brasília.
“Eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação do estado de sítio para impedir instauração do comunismo no Brasil”, disse, conforme trecho do seu depoimento.
O motorista do caminhão, entretanto, percebeu um objeto estranho no seu veículo e acionou a polícia no sábado, o que impediu a concretização do atentado.
Sousa afirmou, no depoimento, que tirou registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) para poder adquirir armas por influência do presidente Jair Bolsonaro. “O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro que sempre enfatizava a importância do armamento civil”, afirmou.
Por isso, ele afirmou que se deslocou a Brasília munido de um arsenal de pistolas, escopetas, um fuzil, mais de mil munições de diversos calibres e cinco bananas de dinamite para apoiar uma intervenção militar.
Após a prisão em flagrante na noite de sábado, Sousa foi levado a uma audiência de custódia na tarde deste domingo. A juíza Acácia Regina Soares de Sá converteu a prisão em flagrante em preventiva (sem prazo para terminar) sob argumento de que o arsenal de armas encontrado com ele apontava “risco à incolumidade pública”.
Especialistas criticaram “o apreço por táticas violentas” de apoiadores de Bolsonaro, como o empresário George Sousa. Eles também divergem sobre o aspecto político do episódio deste fim de semana, veem risco em atos antidemocráticos e relembram o atentado ao Riocentro, em 1981.
Para Valdir Pucci, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), a ocorrência em Brasília é inegavelmente preocupante.
“Durante quatro anos, muitas dessas pessoas ouviram de integrantes do atual governo que a eleição seria uma fraude, se não fossem aqueles esperados por eles. A partir desse mantra, essas pessoas simplesmente não aceitam o resultado das urnas”, disse Pucci.
Para o especialista, o fato de o atual governo não ter admitido publicamente com clareza a derrota nas urnas e ter incentivado a mobilização de manifestantes em atos antidemocráticaos contribui para episódios como o deste fim de semana.
“O ideal seria que o atual presidente ou alguém indicado por ele fosse à TV, fosse às redes sociais e dissesse, com todas as palavras: ‘Houve uma eleição, perdemos, volta-se para casa, vamos ser oposição durante os próximos quatro anos e nos preparar para 2026’. Seria a saída mais condizente com esse processo, mas o que nós vemos é justamente o contrário. Depois do dia 1º espera-se que as pessoas que pensam diferente entendam que o processo eletivo realmente aconteceu.”
Pucci compara o caso do dinamite encontrado perto do Aeroporto Internacional de Brasília com o atentado no Riocentro, o centro de convenções localizado na zona oeste do Rio de Janeiro, em abril de 1981. Na ocasião, às vésperas do feriado do Dia do Trabalho, uma bomba foi explodida acidentalmente por militares do Exército perto de onde ocorreria um show para 20 mil pessoas. A intenção era incriminar grupos de esquerda que faziam oposição ao regime militar, à época. Generais do Exército chegaram a ser acusados formalmente do crime, mas a ação penal acabou engavetada.
“Fazendo um paralelo com o caso Riocentro, lá a bomba chegou a explodir. No caso recente, foi apenas uma tentativa. Mas mesmo com a bomba explodindo no Riocentro, não houve a paralisia do processo político, que continuou e chegamos à democracia. E também esse movimento que houve em Brasília não vai interromper o processo. Falta uma semana para a posse do novo presidente. Trata-se de um fato político já consolidado.”
No Ar: Pampa Na Tarde