Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2025
A imposição de uma tarifa de 50% dos Estados Unidos contra o Brasil deve ter efeitos políticos relevantes. Ao reforçar a pressão externa sobre as instituições brasileiras, o episódio tende a reforçar no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a convicção de que deve manter sua candidatura até o fim. Em vez de preparar o terreno para um sucessor, ele pode se sentir estimulado a resistir, mesmo diante de uma provável condenação ou prisão.
Essa postura dificulta a articulação de uma transição organizada para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou qualquer outro nome. Para viabilizar sua candidatura, Tarcísio precisaria do endosso explícito de Bolsonaro até abril de 2026, prazo legal para filiação partidária e desincompatibilização. O relógio joga contra ele.
A sanção contra o Brasil, porém, não deve melhorar o panorama jurídico de Bolsonaro. Pelo contrário: a tendência do Supremo Tribunal Federal (STF) é considerar medidas externas como interferência indevida e manter seu curso. O próprio Eduardo Bolsonaro (PL-SP), envolvido diretamente na articulação pelas sanções contra o Brasil, passa a correr um risco maior de cassação, o que tornaria o deputado federal licenciado inelegível.
Nesse cenário, um nome que ganharia força como possível sucessor é o de outro filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que sempre teve mais apoio de caciques do Centrão do que o irmão mais novo.
É importante notar que a tarifa pode ficar por um longo tempo. Diferentemente de outros países que sofreram pressão aguda de Trump, o caso brasileiro tem um componente político muito forte que dificulta concessões. Para o presidente Lula e o PT, a resposta natural é insistir na polarização e jogar o desgaste das tarifas no colo de Bolsonaro. Não é algo que necessariamente aumente a aprovação do governo, embora isso seja possível. No mínimo, a briga mantém a militância mobilizada.
Nesse quadro, a eleição de 2026 segue em aberto, com um componente adicional de incerteza sobre a candidatura da direita. Não se pode descartar, inclusive, o surgimento de candidaturas alternativas, como foi a de Pablo Marçal em São Paulo no ano passado. Quanto mais fragmentado e desarticulado for o conjunto de candidaturas, maior a chance de que isso aconteça. (Silvio Cascione, Mestre em Ciência Política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group)
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