Sexta-feira, 18 de Julho de 2025

Home Economia Pressão, diagnóstico e retaliação: as frentes de atuação do governo Lula contra o tarifaço de Trump

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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva vê no momento três frentes possíveis de atuação contra o tarifaço americano enquanto aguarda uma sinalização de Donald Trump sobre a taxação de 50% a produtos brasileiros anunciada na semana passada.

A primeira, vista como mais promissora no curtíssimo prazo, envolve aguardar os efeitos da pressão do setor privado sobre a Casa Branca, segundo auxiliares presidenciais. Executivos de multinacionais e empresários brasileiros com negócios nos Estados Unidos se prontificaram a atuar para sensibilizar os americanos sobre os danos aos dois países caso não haja recuo na taxação.

Em documento divulgado nesta semana, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que os prejuízos do tarifaço serão sentidos também em solo americano. O PIB dos Estados Unidos pode cair 0,37% diante das tarifas ao comércio impostas a Brasil e outros 15 países, de acordo com a entidade.

Além disso, a pauta exportadora brasileira pode pegar em cheio os interesses de parte da população dos Estados Unidos. Empresários brasileiros têm lembrado dos efeitos inflacionários do tarifaço ao “café da manhã” dos americanos, já que o Brasil é importante exportador de café, suco de laranja e carne.

A segunda frente contra o tarifaço foi iniciada em modo emergencial esta semana e dedica-se ao diagnóstico do real prejuízo ao setor produtivo brasileiro. Em rodadas de conversas com empresários, o governo ouviu prognósticos alarmantes sobre os efeitos da taxação.

Diversos segmentos, especialmente da indústria, deixaram claro não ser possível redirecionar a produção para um mercado alternativo ao americano no curto prazo. A avaliação prosseguirá nos próximos dias com documentos que devem ser enviados pelos diferentes setores ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (Mdic), comandado por Geraldo Alckmin.

O vice-presidente foi destacado por Lula para coordenar os trabalhos de avaliação dos impactos ao Brasil.

Esse panorama ajudará o governo na terceira frente contra a taxação de Trump: a preparação de uma lista com possíveis respostas aos Estados Unidos. Nos bastidores, integrantes da diplomacia brasileira citaram a quebra de patentes de medicamentos, além de tarifas em livros e filmes como caminhos possíveis.

A retaliação, porém, vem sendo tratada com enorme cautela. Representantes do governo brasileiro têm dito que este será um instrumento usado em último caso e a prioridade é investir na negociação. O problema é que, por ora, os Estados Unidos não têm dado mostras concretas de disposição para abrir o diálogo.

A abertura da investigação sobre supostas práticas comerciais desleais do Brasil indica que Trump está decidido a dobrar a aposta, segundo um ministro de Lula. De outro lado, ela pode abrir espaço também para uma negociação técnica, segundo uma fonte da diplomacia brasileira.

O próprio início da apuração comercial poderia ser considerado um “gesto” dos americanos no sentido da abertura do diálogo, mas até essa leitura parece cedo para ser feita, pondera essa fonte do Itamaraty.

A disposição do Palácio do Planalto segue sendo a de retomar as negociações técnicas, que foram interrompidas pela “politização” do assunto a partir da carta de Trump na semana falando em “caças às bruxas” promovida pelo judiciário brasileiro contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e condicionando qualquer avanço à suspensão do processo por ele respondido no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para integrantes do Itamaraty, até quarta-feira passada, as negociações entre Brasil e Estados Unidos estavam em curso. Elas versavam sobre a taxação de 10% anteriormente anunciada e caminhava dentro do esperado. Por isso, há dificuldade no momento em traçar cenários.

Há um sentimento de incredulidade dentro do governo Lula diante de um avanço que, sob diversos aspectos práticos, parece injustificável: os Estados Unidos têm vantagem histórica na relação comercial com o Brasil, acumulando superávits, e a alíquota média de importação de produtos é baixa, de 2,7%.

Além disso, segundo um integrante do governo, se a taxa de 50% entrar em vigor, encarecendo sobremaneira os insumos brasileiros, em alguns segmentos, restará aos Estados Unidos recorrer à China, principal adversário na geopolítica internacional.

A análise fria dos dados faz com que seja muito difícil para o governo brasileiro antecipar os próximos passos dos Estados Unidos, especialmente diante de declarações de Trump, admitem integrantes da gestão petista.

Inicialmente, o presidente americano relacionou as sanções a uma suposta perseguição judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Depois, disse que taxação de 50% ao Brasil foi anunciada porque ele “pode”.

(Com informações do blog da Rena Agostini, do jornal O Globo)

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