Quinta-feira, 28 de Março de 2024

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Nenhum presidente brasileiro foi mais dependente, em economia, do que Bolsonaro em relação ao seu ministro Paulo Guedes – ao menos até certa altura. Bolsonaro dizia não entender nada de economia, no que foi sincero e está plenamente evidenciado.

Por algum tempo prevaleceu a ideia de que Paulo Guedes era o Posto Ipiranga, a estação de passagem de toda a administração da economia. A ilusão durou pouco. Faltava a Guedes o conhecimento técnico e o estofo político para desempenhar papel de tal envergadura.

O ex-juiz Sérgio Moro, ao que consta, já escolheu o seu economista de preferência: Affonso Celso Pastore. Não se sabe ainda até que ponto Pastore pode ter, para Moro, o mesmo significado do que Guedes para Bolsonaro.

A escolha de um economista de renome, como Guedes e Pastore, é uma solução medíocre. Em geral eles vêm da economia privada, achando que os problemas do Brasil só não se resolveram, antes, porque faltava um verdadeiro condutor. Poucos se dão conta de que a lógica da administração privada, empresarial, só tangencia de leve, só coincide em questões pontuais, com as singulares exigências da administração pública.

Para ficar em um só exemplo, na iniciativa privada os maiores salários (em geral) são destinados aos trabalhadores mais hábeis, qualificados e engajados no projeto. Na pública, os maiores salários com frequência são apenas isso – os maiores salários. Na empresa, um trabalhador relapso, impontual, inassíduo, não se cria por muito tempo. Na repartição pública, esse mesmo trabalhador fará carreira, receberá os mesmos benefícios dos seus colegas, sobreviverá sem maiores sobressaltos no emprego – graças à estabilidade funcional.

Nas agências públicas, o funcionário estável pode até mesmo – se quiser – se opor às diretrizes do chefe imediato, e de todas as chefias superiores. Claro, ele nunca o fará por capricho, birra, ou seja lá o que for – sempre poderá alegar razões altruístas e republicanas, as quais são aquelas que ele defende e abraça.

Então, antes do ministro, é preciso escrever o programa para a economia, o que supõe uma equipe afinada com as ideias do candidato e do partido, capaz de realizar um diagnóstico confiável e de apontar caminhos e soluções. O programa de governo será sempre uma obra coletiva, permeado de insights políticos e de considerações teóricas que identifiquem o projeto e apontem o rumo.

Candidatos “outsider”, recém-chegados na política ou na vida partidária, com frequência, “encomendam” programas como um ornamento, um documento artificial, pois é preciso tê-lo para apresentar ao distinto público.

Mesmo um programa de governo laboriosamente elaborado, refletindo a história e os compromissos do partido, é peça mais de aparência do que de compromisso real. Imaginem os programas construídos “por obrigação”, saídos de uma única cabeça, apenas para que o candidato possa exibi-lo como seu.

Enfim, não é no programa que o eleitor tem de confiar. E menos ainda em uma ou outra figura exponencial que acompanha o candidato. Então com base em que fazer uma boa escolha? Não há fórmula mágica. É assunto para um novo artigo.

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