Domingo, 10 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de agosto de 2025
Eu grito, grito e grito para dizer: “salve as redes sociais! Salve a liberdade de expressão”. E não é por acaso. E para viver esse-exato-momento. É para ver um influenciador denunciar o que deveria ter sido noticiado pela imprensa e perseguido pela polícia. Felca fez o muitos de nós deveríamos ter feito, mas esqueceu de fazer. Sabe por que? Porque simplesmente banalizamos a bizarrice dos dias de hoje: crianças sendo usadas como isca para presas.
Mas como isso tudo acontece em um contexto que já normalizamos, ok! Ninguém dá bola. Parece normal ver crianças rebolando a bunda, coreografando danças indecentes, trocando de parceiros como se fosse coisa mais normal do mundo. Mas não é.
Porém, vivemos em um contexto onde likes valem mais do que caráter. E ai…falar o óbvio virou ato de coragem. Foi isso que o influenciador Felca fez ao denunciar a adultização precoce — para não dizer a sexualização — de crianças. Em tempos de silêncio cúmplice, ele escolheu enfrentar um tema que poucos tocam, porque mexe com dinheiro, audiência e estruturas inteiras que se sustentam explorando a ingenuidade alheia. Coragem! O cara está peitando um sistema do submundo da criminalidade, que deve girar milhões (ou bilhões) de dólares.
Bora fazer um parêntese: a exploração sexual de menores não é novidade. Na Roma Antiga, crianças eram usadas como moeda em banquetes aristocráticos. Na Idade Média, casamentos arranjados envolviam meninas de 12 anos. O que mudou? Só a embalagem. Hoje, o mesmo abuso se traveste de “conteúdo viral”, “dança da trend” e “marketing ousado”. E a plateia aplaude.
A diferença é que somos – ou deveríamos ser – mais esclarecidos. Tantos séculos já transcorridos…portanto, já deveríamos ter uma sociedade mais evoluída: crianças devem ser crianças, e nada mais do que isso!
Enquanto nós, adultos, ficamos divagando sobre os limites da internet, milhões de crianças se esbaldam nas redes, exibindo seus dotes. E ninguém faz nada.
Até que…vem alguém com coragem para botar a cara a tapa. E, convenhamos, alguém não convencional. O Felca é estranho mesmo. E, ainda assim, fez muito por todos nós. Por que? Porque jogou na cara da sociedade o que. Vigiem quer ver: nossas crianças balançando a bunda para “fazer a vida”. Uma espécie de prostituição digital, sim. Doa a quem doer, essa é a realidade.
A questão é que, por serem menores de idade, eles não têm responsabilidade. A culpa é toda nossa.
E é aí que reside a questão: o mais assustador não é o conteúdo que Felca expôs, mas o quanto nos acostumamos com ele. Quando Hannah Arendt falou sobre a “banalidade do mal”, referia-se a como atrocidades podem ser normalizadas ao ponto de parecerem parte natural da vida. É isso que vivemos: rolar o feed sem perceber que, por trás de vídeos “engraçadinhos” ou “moderninhos”, existe a tragédia de uma infância sequestrada. O corpo de uma criança, moldado para o olhar adulto, não é sinal de liberdade — é a prova de que perdemos completamente a noção de limite.
A adultização não é só uma questão de moral ou costumes. Ela afeta o desenvolvimento neurológico, distorce a percepção de identidade, acelera o contato com estímulos sexuais que o cérebro infantil não está preparado para processar. Estudos de psicologia do desenvolvimento, como os de Jean Piaget e Erik Erikson, mostram que cada fase da infância exige experiências próprias para formar um adulto equilibrado. Quebrar esse ciclo é fabricar, em escala industrial, adultos inseguros, ansiosos e emocionalmente feridos.
Mas talvez o mais grave seja o vácuo deixado pelo poder público. Onde estavam as instituições de proteção à criança quando esse conteúdo viralizou? Quantas denúncias deixaram de ser feitas porque a vítima ou sua família não tinham voz, alcance ou influência? É doloroso constatar que, muitas vezes, a engrenagem estatal se move mais rápido para silenciar uma opinião política do que para impedir a exploração sexual de um menor.
E aí vem a pergunta incômoda: por que o poder público não fez o que Felco fez? Será porque é mais fácil censurar um post do que enfrentar um problema? Mais fácil controlar a rede do que combater o crime? Mais digerível calar quem incomoda do que investigar quem lucra com a degradação da infância?
Ta aí a absoluta perseguição a opiniões críticas. Gente sendo PRESA por lutar pelo próprio conceito de democracia. Pessoas exiladas por falarem. Profissionais perdendo cargos – talvez até mesmo parlamentares – por não desistirem da sua ideologia.
Chega a ser ridículo. A omissão do poder público nos leva a outro ponto vital: a liberdade de expressão. E, mais ainda, a liberdade de acesso às redes sociais. É por elas que denúncias como essa vêm à tona. É nelas que a sociedade civil encontra meios de furar o bloqueio da indiferença e da burocracia. Retirar ou limitar esse acesso é condenar essas vozes ao silêncio, perpetuando abusos invisíveis.
Felca nos lembrou de algo que deveria ser inegociável: criança não é material de entretenimento erótico, não é vitrine para fetiches, não é isca para cliques. Sua coragem deveria ser a regra. Mas, no Brasil da inversão de valores, tornou-se exceção. Tornou-se…banal. E, quando a exceção é proteger a infância, isso diz mais sobre a doença da sociedade do que sobre a virtude de quem ousa denunciá-la.
Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.
Ali Klemt
@ali.klemt
No Ar: Pampa Na Madrugada