Segunda-feira, 04 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de agosto de 2025
O feminicídio não é um crime passional. Não é “ciúme demais”. Não é “briga de casal”. É o assassinato cruel de uma mulher por ser mulher.
E ele começa bem antes do golpe fatal. Começa na humilhação, na ofensa disfarçada de brincadeira, na pressão estética, no controle dos passos, nas ameaças veladas. Começa quando a sociedade naturaliza a ideia de que mulheres devem obedecer, calar, aguentar. E termina, muitas vezes, em um boletim de ocorrência arquivado, um caixão fechado, uma mãe destruída.
No Rio Grande do Sul, os dados são gritantes. Entre janeiro e junho deste ano, foram 36 feminicídios consumados e 134 tentativas. Isso significa que uma mulher é assassinada a cada cinco dias no nosso estado. E a maioria dessas mulheres já havia pedido socorro. Já tinha histórico de violência. Muitas tinham medidas protetivas. Elas não morreram em silêncio — morreram ignoradas.
Como assistente social, eu escuto todos os dias histórias de mulheres que não sabem mais onde buscar ajuda. Que são desacreditadas pela família, pelos vizinhos, por autoridades. Que são julgadas por ter denunciado — ou por não ter denunciado. Que vivem com medo dentro da própria casa.
Mas há outro lado. Há mulheres que conseguiram romper esse ciclo. Que se reergueram depois do abandono, da violência, da dor. Que encontraram em outras mulheres o apoio que o sistema negou. Mulheres que, como eu, decidiram transformar a própria história em ponte para outras.
É por isso que fundei o Projeto Mulheres Fênix. Porque acredito que toda mulher tem o direito de renascer das cinzas. De sair do fundo do poço com a cabeça erguida. De reconquistar sua autonomia, sua autoestima, sua voz. E ninguém tem o direito de arrancar isso dela.
O empoderamento salva vidas
Empoderar uma mulher não é ensinar ela a bater de volta. É ensinar ela a nunca mais aceitar a primeira agressão.
Empoderar é oferecer informação, rede de apoio, oportunidade de trabalho, independência financeira. É mostrar que ser mãe solo não é vergonha, que estar fora dos padrões não é defeito, que a liberdade é um direito — e não um luxo.
Empoderar é dizer: “Você não está sozinha”. Nós, mulheres, somos muitas. Somos diversas. E somos potentes quando unidas. Não queremos mais estatísticas. Queremos respeito, proteção, justiça. Queremos viver — e viver com dignidade.
Se o Estado falha, que sejamos nós o Estado em movimento. Se as leis demoram, que sejamos nós a urgência. Se o sistema cala, que sejamos nós a voz.
Eu sou Karina Dávila. Fui humilhada, desacreditada, silenciada. Hoje sou mãe, sou mulher, sou assistente social. E estou de pé — por mim e por todas que não puderam falar.
* Karina Dávila, assistente social e idealizadora do Projeto Mulheres Fênix
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