Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025

Home Política Quem paga a festa? Recusa de Edson Fachin a baile de posse expõe rituais entre agentes públicos e privados

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Segunda-feira de posse do ministro Edson Fachin como presidente do STF. Fachin quebrou a tradição, e recusou a festa milionária promovida ao novo presidente pelo lobby das associações de juízes.

O baile bienal de coroação é um caso emblemático, mas não é o único em que agentes privados e agentes públicos se misturam, em que o privado faz um gasto em benefício da autoridade, dentro do que é considerado legal – afinal não há nenhuma contrapartida ou compromisso. Por que essas festas acontecem?

O exercício de hoje serve para jantares de homenagem, a contratação de palestras com honorários generosos, o patrocínio de um evento em um resort. Há duas interpretações dominantes.

Tese 1. A empresa ou associação incorre no custo porque acredita que receberá um benefício. Calcula que o agente ou conjunto de agentes beneficiados se sentirá devedor de alguma lealdade quando for acionado.

Mesmo aqueles que se acham incorruptíveis acabariam, sem perceber, promovendo o retorno esperado. São humanos e ficariam mais propensos a acolher seus argumentos depois de ter recebido o presente. Afinal, essas entidades não desperdiçariam milhões de reais se não soubessem que vale a pena.

Tese 2. O agente público não é trouxa, o trouxa é o pagante. O agente público se beneficia da ingenuidade do privado.

Seria tolo alguém com cargo vitalício e boa remuneração se vender por uma festa ou viagem e, se a empresa quer pagar achando que vai conseguir vantagens, o problema é dela. Assim, não é o privado que se beneficiará do público com um regabofe, mas o contrário. Na versão mais esperta, o agente público pode ser ele próprio o solicitante do rendez-vous, e o privado se vê impelido a aceitar por projetar retaliações.

Eu tenho uma outra tese, menos cética dos nossos líderes.

Tese 3. Os incentivos existem para pessoas, não entidades, e pessoas dentro de entidades é que contratam esses gastos. Sobra dinheiro nas empresas/associações, e seus dirigentes querem projetar influência para os seus.

Não são métricas de produtividade ou de impacto que justificam os pagamentos. Alguém quer parecer importante. Um diretor para o seu presidente, o dirigente associativo para os seus associados. É um argumento consoante à teoria dos bullshit jobs, que postula que contratações não são sempre regidas por eficiência.

Pense que um banco brasileiro contratou palestras de Hillary Clinton quando deixou o governo. Difícil pensar num plano de dominação mundial, é mais uma ação de RH, uma versão luxuosa da garrafinha térmica que seu empregador vai te dar no Natal. Segue o baile. (Opinião por Pedro Fernando Nery – Professor de economia do IDP. Autor do livro “Extremos – Um Mapa para Entender as Desigualdades no Brasil”)

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