Domingo, 16 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 16 de novembro de 2025
Há neste momento uma coincidência temporal entre pressões do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela queda dos juros, motivadas basicamente pela aproximação das eleições de 2026, e a percepção de que o Banco Central está perto de promover um corte limitado das taxas, que precisa seguir critérios técnicos.
Com o objetivo prioritário de conter a inflação e levá-la à meta de 3% ao ano, a Selic de sufocantes 15% anuais busca a contenção do crédito e da demanda, de modo a desencorajar a alta de preços. Essa tarefa é prejudicada pela expansão contínua das despesas de Brasília —a verdadeira culpada pelo arrocho monetário.
Se é obviamente desejável um alívio para empresas e famílias, é imprescindível garantir as condições para que não haja riscos de um repique inflacionário.
As novas informações desta semana —a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC e a divulgação do IPCA favorável de outubro— movimentaram o cenário de juros e as expectativas.
As projeções dos analistas para o início de corte de juros estavam divididas entre janeiro e março de 2026. O BC alimentou o otimismo com uma ata de tom mais suave, reconhecendo desaceleração da atividade econômica e queda das expectativas de inflação, também destacando que já considera o impacto da redução do Imposto de Renda das pessoas físicas em seus cálculos.
Como obstáculos, o documento cita o mercado de trabalho ainda bastante aquecido e a necessidade de harmonizar políticas fiscal e monetária, uma vez que a primeira afeta a demanda agregada e a percepção de sustentabilidade da dívida pública.
Ademais, com a divulgação do IPCA de 0,09% em outubro, bem abaixo da expectativa de mercado e o menor número para o mês desde 1998, as projeções de inflação para este e o próximo ano começaram a ser reduzidas.
Indicado por Lula, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, tem procurado demonstrar autonomia e responsabilidade monetária ante o discurso demagógico da administração petista —ao qual não se furta mais nem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que parece mais preocupado com as eleições de 2026 do que com as atribuições de seu cargo.
Nesta semana, Galípolo tratou de não comprometer o BC com previsões para o início da queda dos juros, valorizando a comunicação formal da instituição. Ainda assim, seguirá em posição desconfortável nos próximos meses.
A política perdulária de Lula e Haddad manterá pressões sobre os preços, que podem se acentuar com esperáveis medidas eleitoreiras. Não se imagina que a Selica possa cair abaixo de ainda muito elevados 12% ao ano.
Um afrouxamento além dos limites da prudência poderá ter consequências funestas para a reputação da autoridade monetária e a política de controle da inflação, prejudicando sobretudo os mais pobres. Esse será um novo desafio do BC autônomo. (Coluna de opinião da Folha de São Paulo).