Sexta-feira, 14 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 14 de novembro de 2025
A Polícia Federal afirma que a organização responsável por um esquema de desvios em aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mantinha planilhas detalhadas com pagamentos de propina a diretores do órgão e até mesmo a políticos. Entre os nomes citados estaria o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, preso na operação deflagrada na quinta-feira (13). Segundo a PF, ele aparecia com o codinome “italiano” e teria uma remuneração mensal ilícita de R$ 250 mil.
As informações foram encaminhadas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, que autorizou a prisão preventiva de dez investigados e expediu 63 mandados de busca e apreensão. O esquema seria operado por meio da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), entidade que recebeu R$ 708 milhões do INSS. De acordo com a PF, cerca de 90% desse montante foi desviado para empresas de fachada e contas ligadas a operadores financeiros.
O presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, alvo de mandado de prisão, não foi encontrado. A entidade nega irregularidades. As apurações apontam que o operador financeiro Cícero Marcelino de Souza, preso na ação, era responsável por controlar os repasses ilícitos. Com ele, investigadores apreenderam planilhas e mensagens que detalhavam pagamentos.
Segundo o relatório policial, os destinatários eram identificados como “heróis” ou “amigos”, com valores que coincidiam com movimentações bancárias rastreadas pela PF. As perícias mostram que empresas ligadas a Cícero recebiam recursos exatamente nos dias e quantias registrados nos documentos apreendidos. Entre o início do convênio e a deflagração da operação, ele movimentou centenas de milhões de reais, distribuindo propina a servidores e agentes políticos.
A PF aponta que Stefanutto recebia por meio de empresas de fachada, entre elas uma pizzaria. Os investigadores afirmam que ele atuou para assegurar a continuidade dos repasses irregulares da autarquia à Conafer. Outro beneficiário seria o ex-procurador-chefe do INSS Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, identificado nos diálogos como “Herói V”, “Amigo V” ou “Procurador”. A quebra de sigilo bancário indica que ele recebeu R$ 6,57 milhões entre 2022 e 2024, por empresas controladas por Cícero. Nesse período, teria atuado para liberar repasses antes retidos por suspeita de fraude.
Mensagens recuperadas mostram que ambos apagavam conversas após cada transação. Peritos, porém, conseguiram recuperar registros em que Virgílio agradece depósitos e orienta que os pagamentos continuem “pelos mesmos caminhos”, referência às empresas usadas para ocultação.
O deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) também aparece nas planilhas, segundo a PF, identificado pelo apelido “Herói E”. Ele receberia mensalmente valores intermediados por um assessor, em troca de oferecer “proteção política” à Conafer e interferir para impedir investigações contra a entidade. A PF afirma que ele era “o mais bem remunerado” da lista. Dados bancários mostram repasses que somam ao menos R$ 14,7 milhões para empresas e pessoas ligadas ao parlamentar, por meio de transferências fracionadas, prática conhecida como smurfing. A corporação afirma que Pettersen permitia à cúpula da Conafer acesso a autoridades com influência na escolha da presidência do INSS.
O deputado foi alvo de busca e apreensão. Stefanutto e Pettersen negam envolvimento em irregularidades. Os demais citados não se manifestaram.
Nota da defesa de Alessandro Stefanutto
A defesa afirma não ter tido acesso à decisão que determinou sua prisão e considera a medida ilegal. Sustenta que Stefanutto colabora com as investigações e buscará informações para adotar as medidas cabíveis, afirmando confiar que provará sua inocência.
Nota do deputado Euclydes Pettersen
O parlamentar declarou receber a ação com serenidade, negou vínculos com o INSS ou irregularidades envolvendo a Conafer e disse confiar no trabalho da PF, do Ministério Público Federal e do STF. Disse ainda estar à disposição das autoridades e acreditar que “a verdade prevalecerá”.