Sexta-feira, 20 de Junho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 19 de junho de 2025
Um presidente norte-americano pode estar prestes a se envolver em mais um conflito no Oriente Médio, levado pelos acontecimentos, pelo temor quanto à proliferação de armas nucleares e pela necessidade de manter sua retórica inflamada. Donald Trump, pressionado por aliados em Washington e por pedidos diretos de Israel, estaria considerando um ataque militar ao programa nuclear iraniano — especificamente usando armas destruidoras de bunkers que apenas os Estados Unidos possuem.
Após o ataque inicial de Israel, que matou líderes militares e cientistas iranianos, Trump passou a adotar um tom mais agressivo. A CNN informou que, na terça-feira (17), Trump demonstrou entusiasmo pela ideia de utilizar meios militares dos EUA contra instalações nucleares do Irã, se afastando de tentativas anteriores de resolver a questão via diplomacia.
Como sempre, há dúvidas sobre até que ponto Trump está falando sério. É possível que sua retórica seja uma forma de pressionar o Irã a retomar negociações ou aceitar uma “rendição incondicional”, como exigiu nas redes sociais. Ainda assim, para analistas, isso é improvável.
“Enquanto o presidente Trump tentar capitalizar a agressão israelense contra o Irã, para fazer com que a liderança iraniana se renda, isso simplesmente não vai funcionar”, afirmou Ali Vaez, diretor do Projeto Irã do International Crisis Group, à CNN International.
Uma eventual ofensiva representaria uma reviravolta nos princípios que o próprio Trump defendeu quando entrou na política. Em 2015, ele criticava duramente as intervenções militares dos EUA no Oriente Médio. Se atacar o Irã, tornaria-se o tipo de presidente intervencionista que dizia desprezar. Porém, desde o início, Trump traçou uma linha: o Irã jamais poderia obter uma arma nuclear, especialmente por seu ódio declarado a Israel e aos EUA.
Agora, ele considera usar a “Massive Ordnance Penetrator”, bomba guiada de mais de 13 toneladas, para destruir a instalação nuclear iraniana de Fordow, escondida sob uma montanha. Mas falta discutir um ponto crucial: o que acontece depois?
“Qualquer pessoa que esteja incentivando os Estados Unidos a entrar em guerra com o Irã esqueceu rapidamente os desastres da guerra do Iraque e da guerra do Afeganistão”, disse o senador Chris Murphy à CNN. O colapso no Iraque após a queda de Saddam Hussein e a longa e fracassada ocupação do Afeganistão ainda estão vivos na memória americana.
Mesmo o governo Obama enfrentou críticas após intervir na Líbia e derrubar Muammar Kadafi. “Nós viemos, nós vimos, ele morreu”, disse Hillary Clinton na época, mas o caos que se seguiu serviu de alerta para os riscos de intervenções mal calculadas.
Trump reconheceu esses erros. Em um discurso recente na Arábia Saudita, afirmou: “Os chamados construtores de nações destruíram muito mais nações do que construíram, e os intervencionistas estavam intervindo em sociedades complexas que eles próprios nem entendiam”.
Agora, ele corre o risco de se tornar um desses exemplos.
Resposta
Diferente de Líbia, Iraque e Afeganistão, o Irã possui uma população de 90 milhões e estruturas militares mais sofisticadas. Ainda que um ataque bem-sucedido destruísse seu programa nuclear, o regime iraniano dificilmente deixaria de reagir. Poderia atingir tropas ou bases americanas, bloquear o Estreito de Ormuz (estratégico para o comércio global de petróleo), ou atacar rivais regionais como a Arábia Saudita.
Também não se descarta uma retaliação cibernética em larga escala. A responsabilidade de conter esses efeitos recairia principalmente sobre os EUA, arrastando o país a uma guerra regional.
Mesmo que o ataque levasse a um colapso do regime, o vácuo de poder no Irã poderia desencadear consequências imprevisíveis. O país, etnicamente diverso e com tensões internas latentes, poderia mergulhar no caos, levando a ondas de refugiados e instabilidade em uma região já frágil.
Além disso, restaria o risco de que estoques de material nuclear iraniano fossem saqueados ou caíssem em mãos erradas, ampliando ainda mais a ameaça.
Apesar disso, para o governo israelense, essas considerações podem parecer secundárias. Benjamin Netanyahu argumenta que uma bomba nuclear iraniana representaria a destruição de Israel e do povo judeu — uma ameaça existencial inaceitável.
Contudo, a realidade histórica sugere que intervenções militares, especialmente no Oriente Médio, raramente terminam como planejado. Israel, por exemplo, ainda não conseguiu eliminar o Hamas mesmo após meses de bombardeios intensos em Gaza, que provocaram milhares de mortes civis. O Irã pode representar um desafio ainda mais complexo.
E os esforços dos EUA para moldar o futuro do Irã – do golpe de 1953 ao apoio ao Xá, da guerra Irã-Iraque ao isolamento do regime islâmico – quase sempre acabaram piorando a situação.
Trump, agora, deve decidir se repetirá os erros que tanto criticou. (Com informações da CNN)
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