Terça-feira, 04 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 3 de novembro de 2025
A hipertensão arterial é uma das doenças crônicas mais comuns no Brasil e também um dos principais fatores de risco para infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O tratamento costuma ser para a vida toda e, na maioria das vezes, envolve o uso contínuo de medicamentos. Mesmo assim, muitos pacientes relatam que, depois de um tempo, os remédios parecem não controlar mais a pressão. Mas será que o corpo realmente se acostuma com eles?
A ideia da tolerância
Especialistas ouvidos explicam que os medicamentos não perdem seu efeito químico com o passar do tempo. O que acontece, na prática, são mudanças no organismo, no estilo de vida ou na adesão ao tratamento.
“O termo ‘tolerância verdadeira’ é muito raro. O que vemos, na realidade, é comportamento, interações medicamentosas e a progressão natural da doença”, afirma o cardiologista Pedro Xavier Fontes, preceptor de cardiologia da Faculdade de Medicina de Piracicaba.
Como o corpo muda ao longo do tempo
O organismo não é estático e o envelhecimento traz alterações importantes para o sistema cardiovascular. Além da idade, os especialistas destacam que pacientes com múltiplas doenças crônicas e uso de diversos medicamentos ao mesmo tempo (polifarmácia) são mais propensos a interações que resultam em uma pseudo falha dos anti-hipertensivos.
Membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e mestre em ciências cardiovasculares, Bruna Miliosse reforça que situações como ganho de peso, envelhecimento ou uso de outros remédios também podem interferir no tratamento.
Ou seja: não é o remédio que perde efeito, mas o contexto do paciente que muda.
O papel das diferentes classes de remédios
Essa variação de resposta também está ligada ao tipo de medicação utilizada. Segundo Xavier Fontes, inibidores da ECA (IECA) e bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA) são pilares do tratamento, mas seu efeito pode ser reduzido em pacientes que consomem muito sal ou usam anti-inflamatórios com frequência.
“Os bloqueadores de canal de cálcio, como o anlodipino, controlam bem a pressão, mas podem causar inchaço nas pernas em até um terço dos pacientes, o que reduz a adesão. Já os betabloqueadores não são a primeira escolha isolada, sendo mais indicados em situações específicas, como pós-infarto ou arritmia”, explica o médico.
Para o cardiologista Claudio Catharina, gestor da unidade coronariana do Hospital Icaraí, o organismo pode encontrar atalhos para escapar da ação do medicamento.
Interações escondidas no dia a dia
Outro ponto importante são as interações com remédios comuns.
“Anti-inflamatórios podem aumentar de 5 a 10 milímetros de mercúrio na pressão e antagonizar os efeitos de IECA, BRA e diuréticos. Descongestionantes nasais com pseudoefedrina também aumentam bastante a pressão. Além disso, corticoides, anticoncepcionais com estrogênio, cafeína em excesso e até pré-treinos podem atrapalhar o controle”, alerta Fontes.
Essas interações, muitas vezes desconhecidas pelo paciente, ajudam a explicar por que a pressão escapa mesmo em tratamento contínuo.
Estilo de vida que reforça (ou anula) o tratamento
Mesmo quando a medicação é usada corretamente, hábitos pouco saudáveis podem atrapalhar. “Uma dieta rica em sódio pode neutralizar a ação do anti-hipertensivo. O álcool também altera o metabolismo do fármaco, diminuindo sua eficácia”, explica Miliosse.
Para Xavier Fontes, pequenas mudanças ajudam a manter o controle: “Separar as doses em caixinhas, usar combinações de comprimidos únicos, reduzir sal e álcool, revisar outros remédios em uso e investigar causas secundárias, como apneia do sono e hiperaldosteronismo.”