Sábado, 18 de Maio de 2024

Home Cinema Saiba por que os filmes da Marvel têm fracassado tanto ultimamente

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A Marvel, como toda editora de quadrinhos de super-heróis que se preze, adora um plot twist para deixar os fãs boquiabertos com viradas surpreendentes em suas tramas. Mas a reviravolta que a Fase 4 causou no Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) foi tão rápida e indigesta que nem mesmo os críticos mais pessimistas esperavam filmes e séries tão problemáticas.

A fadiga dos filmes de super-heróis, que já era uma coisa esperada há alguns anos, chegou muito mais rápido do que deveria, e não somente pelo desinteresse do público. Isso acontece, principalmente, porque o Marvel Studios não aprendeu a driblar vários obstáculos que a própria Marvel Comics teve que superar quando chegou à falência nos anos 1990.

A queda brutal de bilheteria é parte dos sintomas que comprovam o fracasso da Saga do Multiverso: diferente da Saga do Infinito, que uma ou duas vezes por ano superava a média de US$ 600 milhões a US$ 900 milhões e batia US$ 1 bilhão, com alguns filmes, como Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato passando dos US$ 2 bilhões.

Entenda por que isso vem acontecendo.

Roteiros ruins

Quando o Marvel Studios nasceu, lançava no máximo três filmes por ano, e todas as produções eram “taylor-made”. Depois dos primeiros longas, Kevin Feige conseguiu selecionar cuidadosamente as equipes de cada projeto, com um misto de atores populares que se encaixaram bem em seus personagens, diretores de uma nova safra com uma forte pegada autoral e jovens roteiristas que se submetiam a fazer rapidamente duas ou três versões de histórias acima da média a um preço bem menor do que os escritores mais experientes e consagrados.

A pandemia e a greve dos roteiristas escancararam bem as táticas abusivas que vários estúdios cometiam há anos. E o Marvel Studios, que, claro, também se aproveitava dos “padrões do mercado”, viu-se obrigado a recorrer a escritores ainda mais jovens e novatos, que ainda estavam terminando seus cursos de graduação e sequer tinham um lançamento profissional no currículo.

Execução inconsistente

Esse problema afetou principalmente as séries do Disney+, como Ms. Marvel, Mulher-Hulk, Gavião Arqueiro e Invasão Secreta. Os capítulos prometem um desenvolvimento dos personagens que nunca chega, e as tramas tentam costurar subtextos tão preguiçosos e ocos que mostram claramente a incapacidade dos roteiristas de concluírem de forma coerente e verossímil algumas das boas ideias por ali.

Boa parte dos problemas vêm dos próprios roteiros, mas deveria haver ali um trabalho melhor executado na hora de editar, alterar coisas e gravar com prioridade os elementos que realmente conduzem a trama. Por exemplo, na Invasão Secreta original há um constante clima de desconfiança e medo, pois qualquer herói poderia ser um Skrull. Já no Disney+, a espionagem em atmosfera de perigos reais e imediatos logo virava uma sequência de Nick Fury idoso flertando ETs ou trocando conversa fiada em boteco.

Narrativas previsíveis

Um dos maiores acertos do Marvel Studios foi encaixar os filmes em um gênero parecido com o dos quadrinhos, em que romance, aventura, ficção científica, drama e comédia se misturam em um blend que funciona porque os poderes, embora sejam fantásticos nas batalhas e peripécias dos heróis e vilões, não são o mais importante.

Antigamente os filmes de super-heróis eram encaixados em gêneros estabelecidos pelo cinema há mais de um século. Homem-Aranha era classificado como “Aventura”, Hulk ficava na prateleira de “Drama”, e X-Men iam para “Ficção Científica”. Hoje em dia, os filmes da Marvel têm uma categoria própria.

Os filmes e séries da Marvel têm uma personalidade básica, que é rir de si mesma com um humor inerente aos heróis mundanos. Mas isso deveria ser uma moldura, um traço de fisionomia, uma música de fundo.

Além disso, a Fase 4 peca em ainda insistir em um desenvolvimento plano e horizontal, sem arriscar muito. A Marvel Comics passou por isso e faliu nos anos 1990. A editora só conseguiu se reerguer quando entendeu que os personagens e os mundos onde eles vivem precisam estar sempre em movimento, a partir das consequências de cada evento.

Os heróis e vilões precisam mostrar que saíram de algum lugar para estar em outro. Se você parar para notar, o único que envelheceu cronologicamente no MCU foi o Homem-Aranha. Veja bem, o garoto de 13 anos que assistiu ao primeiro filme do Escalador de Paredes do Marvel Studios tinha a idade do Peter Parker do Tom Holland em sua estreia.

Já em Homem-Aranha: Longe de Casa, esse mesmo guri chegou aos 18 anos e completou o colegial junto com esse Peter — e isso gera uma memória afetiva e uma compressão de maturidade que os fãs podem se relacionar. No final da trilogia, finalmente vemos o herói que ele é nos quadrinhos: o Escalador de Paredes trágico e solitário que apanha do mundo e devolve generosidade, sem se corromper.

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