Quinta-feira, 02 de Maio de 2024

Home Variedades Saiba quem é Pedro Kos, o brasileiro vencedor do Emmy e que concorre ao Oscar 2022

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Quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou a lista de indicados ao Oscar 2022 no último dia 8 de fevereiro, a exclusão de “Seiva bruta”, de Gustavo Milan, até então pré-selecionado na categoria melhor curta-metragem, despertou um sentimento de decepção para os brasileiros. Sentimento este que já havia marcado presença em dezembro, quando “Deserto particular”, de Aly Muritiba, ficou de fora da pré-lista na disputa de melhor filme internacional. Mas ao se analisar a lista final das nomeações, foi possível constatar que ainda havia uma chance do Brasil na premiação. E ela viria com um profissional que já conquistou o Emmy Awards.

Trata-se de Pedro Kos. Natural do Rio de Janeiro, o diretor e montador de 44 anos concorre na categoria melhor curta-metragem de documentário com “Onde eu moro”, filme co-dirigido por Jon Shenk e que está já disponível para streaming na Netflix.

Radicado em Los Angeles, na Califórnia, Kos fala sobre como foi receber a notícia de que tinha sido indicado ao Oscar: “Eu estava dormindo, eram 5h40 da manhã e meu telefone começou a explodir com mensagens. Eu estava em São Francisco, na casa do Jon Shenk e da Bonni Cohen, que são meu co-diretor e minha produtora no filme. Começamos a receber telefonemas e foi uma maneira maravilhosa de acordar. Foi incrível, foi muito surreal, a ficha ainda não caiu”.

“Onde eu moro” reflete sobre o aumento da população de moradores de rua nos Estados Unidos, tendo como foco as cidades de Los Angeles, São Francisco e Seattle. Através de registros e depoimentos, Kos e Shenk retratam o cotidiano de mais de 20 pessoas, todas passando dificuldades na vida.

“Tanto em São Francisco, quanto em Los Angeles, temos tido um aumento muito expressivo no número de moradores de rua, o que está mudando a forma como vemos as cidades”, relata o brasileiro. “Decidimos mergulhar nessa situação porque não víamos nada na imprensa. O diálogo na mídia estava muito desumanizador, culpando as pessoas que estão na rua. Queríamos mudar um pouco o enfoque e falar com as pessoas, saber de suas experiências, se conectar de uma maneira humana.”

Apesar do foco em um momento social dos Estados Unidos, impulsionado por um sistema que fomenta desigualdades, Kos também vê na trama uma questão de impacto mundial.

“Fomos conhecendo pessoas incríveis e percebendo como todos nós somos vulneráveis. E como o sistema que existe nos Estados Unidos é muito injusto. Estamos a uma tragédia, a um acontecimento, de nos deparar com uma situação de vulnerabilidade igual a deles. Mas é uma coisa que é quase universal. Em vários lugares do mundo, vemos este diálogo desumanizado. Como sociedade, criamos tantas muralhas, tantas barreiras”, completa.

Ainda com muitos laços com o Rio de Janeiro e sonhando em trabalhar mais no Brasil, Pedro se muda para os Estados Unidos na adolescência, com os pais, e cursou o ensino médio em Miami. Posteriormente, fez faculdade de teatro na conceituada Universidade de Yale. Em 2002, passa um ano em Nova York, e ganha sua primeira oportunidade na indústria cinematográfica como assistente de pós-produção no drama “Frida”, dirigido por Julie Taymor e estrelado por Salma Hayek. Deslocado para Los Angeles para ajudar na finalização do filme, decide ficar definitivamente na cidade.

“Sensível, inteligente e extremamente talentoso, Pedro é um artista brasileiro que se aventurou pelo mercado americano há décadas e hoje colhe os frutos de um sonho antigo: fazer um cinema de arte, relevante e acessível. O conheci em 2004, por uma amiga em comum e nos tornamos amigos imediatamente”, conta o diretor e montador Daniel Rezende, indicado ao Oscar pela montagem de “Cidade de Deus” (2002). “Já nos seus primeiros curtas, era claro sua visão e proposta. Com experiência em montagem, ele tem se aventurado na direção de documentários importantes. Sorte dos brasileiros que têm um representante na maior premiação do cinema mundial.”

Em LA, aos poucos, Kos vai conquistando novas oportunidades. Ele é chamado para editar o making off de “O novo mundo” (2005), de Terrence Malick, e assume a função de assistente de montagem de “Across the universe” (2007), de Julie Taymor. A primeira oportunidade como montador principal de um filme veio com “Lixo extraordinário” (2010), de Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim.

“Assim que o conheci, percebi que mesmo não tendo um grande currículo à época, era uma pessoa e um artista brilhante. Tive que convencer o produtor a contratá-lo mesmo sem ter créditos como montador”, recorda a diretora Lucy Walker, indicada ao Oscar de melhor documentário por “Lixo extraordinário”.  “Ele é realmente uma bela alma que vê a beleza das pessoas ao seu redor e sabe como criar os mais belos filmes. Eu sabia, conversando com ele, que veríamos a história da mesma maneira e que ambos tínhamos a mesma devoção e ética de trabalho para fazer justiça a histórias importantes e difíceis de contar.”

Lucy procurava por um montador que falasse português para seu filme e chegou ao nome de Pedro por indicação do diretor de fotografia brasileiro Affonso Beato, com forte reconhecimento internacional pelo trabalho em obras como “Tudo sobre minha mãe” (1999), de Pedro Almodóvar, e “A rainha” (2006), de Stephen Frears.

Após “Lixo extraordinário”, Pedro Kos vê sua carreira como montador explodir. Em 2013, se destaca com o trabalho em “The Square”, pelo qual conquista um Emmy Awards de melhor montagem em programa de não ficção, prêmio dividido com Christopher de la Torre e Mohamed El Manasterly. O filme dirigido por Jehane Noujaim viria a ser indicado ao Oscar de melhor documentário no ano seguinte.

Apesar do reconhecimento como montador, Kos ainda sentia a necessidade de contar histórias mais diretamente, o que o levou a se arriscar como diretor e roteirista. Em 2017, estreia na direção com “Parceiros da saúde”, co-dirigido por Kief Davidson. Dois anos depois, escreve o roteiro de “Privacidade hackeada”, de Karim Amer e Jehane Noujaim.

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