Segunda-feira, 15 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 15 de dezembro de 2025
Tradição familiar, tecnologia e genética de ponta fazem da Cabanha Santa Lúcia uma referência nos Campos de Cima da Serra.
Nove décadas de tradição e inovação na pecuária
Completar 90 anos é um marco para qualquer negócio familiar, mas, na pecuária de precisão, representa um legado de dedicação e aprimoramento genético contínuo. A Cabanha Santa Lúcia, localizada em André da Rocha, nos Campos de Cima da Serra (RS), celebra nove décadas como uma das principais referências nacionais na seleção e no fortalecimento da raça Devon. Mais do que uma história de família, a propriedade tornou-se um exemplo de como tradição e tecnologia podem caminhar juntas para elevar o padrão da pecuária brasileira.
Da Estância Santa Lúcia ao protagonismo atual
A trajetória começou em 1935, quando Amantino Barreto da Costa e a esposa, Lúcia Joana, recém-casados, adquiriram seus primeiros exemplares Devon em Lagoa Vermelha. O plantel cresceu, ganhou reconhecimento e, décadas depois, o legado foi transferido aos descendentes Barreto Hoffmann, que deram continuidade ao trabalho na atual Cabanha Santa Lúcia, a 50 quilômetros dali. Hoje, a propriedade mantém um rebanho moderno, com manejo voltado à eficiência, ao bem-estar animal e ao rigor técnico.
Tecnologia impulsiona o melhoramento genético
O compromisso com a evolução do rebanho se reflete nos investimentos constantes em genética e em ferramentas de precisão. Os touros passam por ultrassonografia de carcaça, participam do Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo) e têm genotipagem em fase final. A cabanha utiliza técnicas como fecundação in vitro (FIV), transferência de embriões (TE) e, principalmente, inseminação artificial em tempo fixo (IATF), integrando ciência e manejo para garantir eficiência reprodutiva.
“Usar tecnologia nos permite trabalhar apenas com animais de alta eficiência genética, atendendo cada vez melhor nossos clientes”, explica Gilson Barreto Hoffmann, diretor técnico e representante da terceira geração da família. A cabanha comercializa cerca de 45 touros por ano e mantém aproximadamente 250 matrizes PO, com compradores no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Genética internacional e banco de sêmen raro
Ao longo das décadas, a Santa Lúcia incorporou ao plantel animais importados da Inglaterra, berço da raça Devon. Hoje, mantém um banco de sêmen com 50 touros — 20 deles provenientes de países como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Inglaterra. Algumas linhagens são consideradas raridades.
“Temos material genético de touros usados há 50 anos. Quando cruzamos essas linhagens antigas com a genética atual, surgem animais muito diferenciados”, destaca Hoffmann, que também é médico veterinário.
Um legado construído com pioneirismo
Os filhos de Amantino e Lúcia lembram que o Devon, ainda pouco conhecido na região nos anos 1930 e 1940, chamava atenção pela docilidade e pela qualidade da carne. “As pessoas queriam conhecer aquele gado diferente, muito manso e de raça definida”, recorda Célia Barreto da Costa Domingues.
O irmão caçula, Danilo Barreto da Costa, reforça: “Nosso pai dizia que o Devon corresponde a todas as expectativas e é uma atividade rentável. Ele nos ensinou que trabalhar com dedicação e honestidade nos leva a colher bons resultados”.
Herança que atravessa gerações
A filha mais velha, Soely Barreto Hoffmann, recebeu dos pais dez novilhas e um touro Devon como presente de casamento — tradição que ela repetiu com os filhos. Hoje, administra a cabanha ao lado da família.
“Todos gostam muito do Devon. Os netos chegam e já vão ver os animais, alisar. Torço para que nosso trabalho continue por muito tempo”, afirma.
Premiações reforçam a excelência
A Santa Lúcia acumula décadas de destaque em exposições agropecuárias no Sul do país. A primeira participação em pista ocorreu em 1955, no Parque Menino Deus, em Porto Alegre. Em 2025, ano do nonagésimo aniversário, a cabanha conquistou mais de 20 troféus em feiras como Fenagen, Expointer, Expolages e ExpoAgro André da Rocha.
“O sucesso nas pistas foi um grande presente de 90 anos”, celebra Gilson Hoffmann.
Uma trajetória que honra a raça Devon e contribui para o avanço da pecuária brasileira.