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Por Redação Rádio Pampa | 15 de outubro de 2023
Diante de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que derrubaram medidas da Lava-Jato e em meio ao desgaste da imagem da operação junto à opinião pública, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) tem intensificado os acenos às bandeiras do conservadorismo, caras ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A agenda inclui aproximação com lideranças internacionais de direita, discursos sobre políticas de gênero e ataques a posicionamentos ideológicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na última semana, o ex-juiz da Lava-Jato mirou na postura do governo em relação ao conflito em Israel e cobrou críticas mais duras ao Hamas, que não foi classificado por Lula como grupo terrorista. Assim como Bolsonaro, o senador relembrou um comunicado publicado no site da organização após a eleição do petista: “Hamas parabeniza Lula pela vitória nas eleições”, dizia. O parlamentar também abordou uma nota oficial do Itamaraty a respeito dos ataques: “Sequer nomina ou repudia nominalmente” o Hamas, disse Moro.
Aliados dizem que a mudança na atuação de Moro, antes voltada quase exclusivamente às pautas anticorrupção e de segurança pública, reflete a influência de políticos estrangeiros. O senador tem participado de eventos de lideranças conservadoras em países como Venezuela e Nicarágua. Em setembro, o parlamentar e a sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União-SP), compareceram ao “Segundo Encontro do Grupo Liberdade e Democracia”, em Buenos Aires. Um dos painéis do seminário era: “Educação x doutrinação. O papel da esquerda nas escolas e universidades”.
Desinformação
Também em setembro, ele tornou-se alvo de polêmica ao se juntar a parlamentares bolsonaristas para compartilhar uma desinformação. “Sem Congresso, sem debate com sociedade, sem consulta a Estados e Municípios, sem perguntar aos pais, Governo Lula impõe banheiros unissex para todas as escolas públicas do país”, escreveu em suas redes sociais.
O post se referia a uma resolução do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, que orientou as instituições de ensino a garantirem o uso de banheiros seguindo o gênero que os alunos se identifiquem. O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acionou a Advocacia Geral da União (AGU) contra o senador e outros políticos que participaram do movimento.
Pessoas próximas a Moro dizem que tais comportamentos condizem com as opiniões pessoais do congressista e que, após oito meses de mandato, ele agora estaria se sentindo mais confortável para externá-las.
Capital eleitoral
A cientista política Carolina Botelho, da Universidade do Estado do Rio (Uerj), aponta que o senador já tinha “aderência” junto aos eleitores bolsonaristas e que o movimento de maior aproximação com os conservadores pode ser uma estratégia para angariar uma maior popularidade:
“Todas as manifestações de Moro casam com as de Bolsonaro. Ele aparece com os filhos do ex-presidente e fala para este público, que tem capital eleitoral”, avalia Botelho.
Em seus eventos fora do país, Moro tem batido na tecla do que chama de “comunismo” de Lula. Em uma série de pronunciamentos, o parlamentar criticou encontros do petista com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
“Temos um presidente que tem se aproximado de autocracias a nível internacional e virado às costas para democracias ocidentais”, disse Moro durante encontro na Argentina.
Assim como o marido, a deputada Rosangela Moro tem investido em declarações e posicionamentos conservadores. Recentemente, assinou o pedido de urgência do Estatuto do Nascituro — no intuito de barrar o STF em uma possível legalização do aborto. A parlamentar também deu aval ao projeto que visava anistiar Bolsonaro da inelegibilidade.
No Ar: Pampa Na Tarde