Quinta-feira, 20 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 19 de novembro de 2025
Desde criança, a artesã Eduarda Mexias, de 21 anos, sentia que era diferente das amigas da escola. Enquanto as colegas suspiravam pelos garotos musculosos, ela se sentia atraída pelos mais diferentes do estereótipo de beleza. “Preferia corpos fora do padrão, os considerados ‘gordos’”, afirma a paulista. Para ela, o belo sempre esteve nos olhos de quem vê. “Quando uma mulher como a Selena Gomez se relaciona com alguém fora do padrão, dizem que o cara é feio, que não combina com ela. Mas cada um tem sua preferência. Eu adoro um ‘feinho’.”
O comportamento hoje tem nome: shreking, termo cunhado pela Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) em referência ao ogro do filme “Shrek”, símbolo da quebra dos padrões estéticos dos príncipes encantados dos contos de fadas.
No mundo das celebridades, o assunto veio à tona com questionamentos sobre a beleza não só do parceiro de Selena Gomez, mas também de outras musas da cultura pop, como Beyoncé, Lana Del Rey e Ariana Grande.
Para o psicanalista Eduardo Omeltech, estudioso sobre o assunto, o comportamento é um espelho do esgotamento emocional feminino. “Nasce da saturação das mulheres em relação à exigência de performar beleza como moeda de valor afetivo”, afirma.
Segundo o especialista, as escolhas das celebridades funcionam como catalisadoras do inconsciente coletivo: “Elas não criam tendências, apenas as revelam. Quando uma mulher pública opta por um parceiro fora do padrão, os fãs questionam os próprios parâmetros.”
A publicitária Donna Christien, de 23 anos, prefere parceiros “feios”, mas questiona se suas escolhas amorosas realmente se baseiam em admiração ou se podem camuflar medo do abandono. “Tenho a tendência de sempre querer ter algum controle sobre minhas relações. Então, quando saio com alguém que chama menos atenção, me sinto menos ameaçada”, confessa.
Sob o viés da psicanálise, Eduardo Omeltech entende o “escudo” por trás do shreking. “Quando a escolha nasce do medo de perder, o amor vira um abrigo, não um encontro”, alerta o psicanalista.
A historiadora Mary Del Priore lembra que os ideais de beleza foram impostos por imagens que dominaram o imaginário desde o século XIX.
“Há um cansaço em relação aos bonitos narcisistas. O tipo galã não interessa mais. O que atrai nos homens, hoje, é presença, humor e maturidade emocional”, afirma a historiadora.
Mary, porém, deixa uma pergunta no ar: “Homens podem ser feios, e mulheres, não podem?”
Voltar Todas de Valdeci Oliveira