Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de dezembro de 2025
O primeiro volume de uma nova e extensa biografia de Paul McCartney acompanha a vida do artista entre 1969 e 1973. De acordo com o coautor Allan Kozinn, esse período foi escolhido porque a maioria dos livros publicados a respeito de cada um dos Beatles aborda o início da trajetória dos britânicos até 1970, o ano do fim da banda. Depois, McCartney teve depressão, consolidou a carreira solo e constituiu família ao lado da esposa, Linda.
Alguns livros sobre os Beatles e biografias individuais de seus integrantes (John Lennon, George Harrison e Ringo Starr, além de McCartney) contam os desdobramentos da banda somente alguns anos após a separação. Para Kozinn, esse tipo de estratégia talvez ainda fosse razoável nos primeiros tempos, como à época do assassinato de Lennon, em 1980. Mais de 50 anos após o término do grupo, diz Kozinn, o mais apropriado é adotar uma perspectiva ampla sobre McCartney, “um artista tão prolífico e aventureiro”.
Além da música pop, McCartney se arriscou na música eletrônica, em obras orquestrais e de câmara, artes visuais, poesia, literatura infantil, cinema e teatro musical. Estima-se que os 26 álbuns de McCartney pós-Beatles tenham vendido entre 86,5 milhões e 100 milhões de cópias, e dois de seus títulos mais recentes, “Egypt Station” (2018) e “McCartney III” (2020), lideraram as paradas de vendas nos EUA.
McCartney foi convidado a dar entrevistas para o livro. No entanto, como de costume, preferiu manter distância. O ex-Beatle deu seu aval para o que disseram os músicos, empresários, produtores, cineastas, roadies e outros profissionais em seus depoimentos aos autores.
“A verdade é que novas entrevistas, embora úteis para clarear detalhes ou resolver inconsistências e contradições que sempre surgem ao pesquisarmos a vida de alguém, são desnecessárias”, escreve Kozinn no livro.
Com milhares de depoimentos de McCartney para estações de rádio, emissoras de televisão e de reportagens publicadas na imprensa em seus arquivos, os autores afirmam que sabem “o que ele tem a dizer ou o que está disposto a dizer em público – sobre a maioria dos tópicos relativos à sua vida e carreira”. “As coisas que ele não está disposto a dizer precisam ser encontradas em outro lugar.”
O coautor do livro, entretanto, como repórter cultural do The New York Times de 1977 a 2014, entrevistou o músico várias vezes e o viu se apresentar em shows intimistas, no lendário Cavern Club em Liverpool, onde os Beatles fizeram centenas de shows no início de carreira, ou em grandes arenas como estádio de beisebol dos Yankees, em Nova York. Para Kozinn, o aspecto mais impactante de uma entrevista com McCartney é a assombrosa habilidade do ex-Beatle em fazer o jornalista se sentir como se fossem velhos amigos.
O coautor narra o seu reencontro com McCartney em uma coletiva de imprensa em 1991, um ano após a sua primeira entrevista individual com o ex-Beatle para o jornal The New York Times. “Li a sua resenha. Eu só queria agradecer por ter dado uma chance ao ‘Oratório”, disse McCartney, segundo Kozinn, em referência à primeira obra de música clássica do compositor, o “Oratório de Liverpool”.
No livro os eventos são contados na forma como foram vivenciados pelos participantes e como se o autor não tivesse conhecimentos prévios sobre esses acontecimentos. De acordo com Kozinn, essa e outras histórias soam como um livro de suspense. McCartney já declarou que existem dois de si: “ele” é o artista consagrado; “eu” é o homem com quem a família e os amigos próximos convivem.
“Quando se fala em Paul McCartney, estou falando do cara dentro de mim; mas você está falando ‘dele’, o cara que sobe ao palco e faz discos”, diz McCartney, em citação do livro. “Acho que um modo de preservar a minha sanidade mental é pensar: ‘Na real, não sou essa pessoa, sou apenas um moleque de Liverpool. Não fiz tudo isso. Na verdade, é um sonho, e logo vai terminar’.”
Se para John Lennon o sonho acabou com o fim dos Beatles, e Paul estava morto, segundo boatos e teorias de conspiração dos anos 70, hoje a história ainda está sendo escrita e longe de terminar.
Paul McCartney – O legado – Volume 1 (1969-1973) – Allan Kozinn e Adrian Sinclair. Trad.: Henrique Guerra. Belas Letras. 864 págs., R$ 199,90