Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de julho de 2023
Técnicos da Secretaria Municipal da Cultura e Economia Criativa (SMCec) de Porto Alegre vistoriaram nesta terça-feira (4) o interior do prédio da antiga Confeitaria Rocco, na esquina da rua Riachuelo com Doutor Flores (Centro Histórico). O trabalho embasará a licitação de projeto de restauro do imóvel, declarado de utilidade pública por decreto de prefeitura no dia 26 de junho, para fins de desapropriação.
De acordo com a diretora da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural, Ronice Giacomet Borges, o objetivo da análise foi verificar “in loco” as condições atuais da edificação: “Este trabalho ajudará a quantificar as reformas e serviços a serem contratados”. O dono do prédio acompanhou tudo.
A construção possui quatro pavimentos (somando-se o porão) não recebe serviços de manutenção há anos. Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Rio Grandse do Sul (MP-RS), os proprietários e a prefeitura foram condenados a restaurar o imóvel, devido a interesse histórico e cultural. A procuradora Anelise Pires Andrade, que atua na ação judicial, acompanhou a vistoria.
No mês passado, a Procuradoria-Geral do Município (PGM) solicitou o isolamento do prédio com um tapume, devido a risco de queda de elementos da fachada. “A desapropriação se faz necessária para garantir a preservação do imóvel, inaugurado em 1912 e tombado em 1997”, argumentou. O imóvel também acumula cerca de R$ 400 mil em dívidas de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
O processo se deu no âmbito de uma ação civil pública ajuizada em 2006 pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). Durante a audiência judicial, o procurador-geral adjunto de Domínio Público, Urbanismo e Meio Ambiente, Nelson Marisco, obteve deferimento de sua solicitação para que a sentença fosse averbada na matrícula do imóvel.
Lugar icônico
Com atividades encerradas em 1968, a Confeitaria Rocco tem sua história ligada ao italiano Nicolau Rocco (1861-1932), que antes de se radicar no Brasil havia trabalhado no afamado café El Molino de Buenos Aires (Argentina). Ao escolher Porto Alegre para fixar residência, em 1892 ele fundou a Confeitaria Sul-América.
Em 1910 ele encomendou ao arquiteto Salvador Lambertini a construção do prédio na Riachuelo com Doutor Flores, prevendo a instalação de fábrica de doces, confeitaria e salão de festas. Lambertini morreu antes da conclusão da obra e os trabalhos foram então finalizados sob a supervisão de Manoel Barbosa Assumpção Itaqui, permitindo a inauguração em 20 de setembro de 1912.
A área total é de 1.560 metros-quadrados, distribuídos em quatro pavimentos. Em estilo eclético com inspiração greco-romana, a configuração externa é de autoria de Giuseppe Gaudenzi e Frederico Pellarin, auxiliado por Gustavo Steigleder. O salão de festas era muito requisitado para banquetes e bailes aristocráticos, devido à qualidade dos serviços e ao requinte decorativo, incluindo pinturas, elementos em mármore e outros atrativos.
No subsolo ficava a fábrica, ao passo que a confeitaria atendia ao público no térreo e o salão funcionava no segundo andar. O terceiro andar abrigava a copa e administração, enquanto o quarto pavimento se dividia entre depósito e terraço com vista para a cidade.
Tombado pela prefeitura em janeiro de 1997, o prédio chegou a ser ocupado por um curso pré-vestibular durante os dois anos seguintes. Nunca mais teve inquilinos desde então e chegou a ser alvo de planos de desapropriação e de reabertura da Rocco – cujo letreiro com o nome do estabelecimento original permanece em ambas as faces visíveis do imóvel.
(Marcello Campos)