Terça-feira, 14 de Maio de 2024

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Era uma família meridional, no sul da Itália (província de Potenza), perto de onde atuava a Máfia. A cidade natal, encostada na montanha subia e se chamava Lauria Inferiore, medida que as casas, de um desenho comum, estavam envelhecendo havia um acordo local que se faria uma nova, praticamente cópia da anterior.

Era formada, de 180 a 230 casas, com um contingente de moradores permanentes que nos permitiu que não passavam de mil pessoas.

Eu tinha um compromisso que me era cobrado muitas vezes pela minha mãe de que teria de ir visitar a cidadezinha em homenagem ao meu falecido pai que de lá viera. Ela reclamava por que eu já estivera na Itália, estudando, e não tivera tempo de visitar Lauria. Estava acompanhado de minha mulher. Chegamos depois de dois trechos de viagem de ônibus, que subiam permanentemente por uma estrada cheia de curvas colada na montanha. Tenho de dizer que no ônibus – único meio de transporte para chegar à cidade – eram distribuíam-se cobertores, que era o melhor da viagem. Chegamos à cidadezinha, que ficava na beira da estrada, e fomos autorizados a descer na porta de uma pizzaria (que seria a única da cidade e onde havia um grupo de pessoas aproveitando o sol de domingo.)

Ao descer do ônibus, fomos aconselhados a ir à igreja e assistir a missa. Felizmente, um crente, quando nos dirigíamos para sentar nos bancos no mesmo lado, avisou-nos que tínhamos que sentarmos em lados diferentes.

Na saída, falei com o pároco da cidade, de 81 anos, e expliquei que gostaria de conhecer algum parente que restasse. Disse-me que telefonaria para chamá-los.

Aí começa a confusão. O pároco demora alguns minutos e diz que chamara para as casas dos Chiarelli e que ninguém atendera e concluiu: devem estar viajando. Enquanto ele atendia outra pessoa, um padre jovem de 30 anos, que chegara de Roma na véspera e que iria substituir o veterano, me sussurrou: ele não esta muito interessado no teu encontro com parentes daqui.

Ele – o pároco – deu a entender nos telefonemas aos Chiarelli que aqui havia um jovem casal brasileiro e que procuravam parentes: “Queriam conhecer as propriedades’’. Por isso, a família está toda temerosa que o senhor tenha vindo à procura das propriedades históricas da família. E concluiu o jovem padre: eles não irão aparecer.

Daí, saímos da igreja e fomos comer uma pizza no único restaurante que estava aberto, e estava preciosa. Decidimos caminhar duas ou três quadras e chegar à pracinha da cidade. Encontrei o prédio da esquina que era o empório de propriedade do meu avô, a família morava em cima. Atravessamos a rua, sentamos num banco da praça e comemos a pizza. O retorno tinha de ser de ônibus que só passaria uma hora depois.

Batíamos fotos quando uma Fiat 500 parou na rua em frente a nós. Dois carabinieri desceram, comunicando a nós que estávamos presos. Levaram-nos para a pizzaria que a essa altura estava lotada e com muito ruído. Uma clientela já discutia a nosso respeito. Quando entramos, o policial comunicou ao dono da pizzaria que os falsários estavam presos. Éramos nós. Senti que estávamos num problema que não criáramos mas que tínhamos que resolver. Fiquei pensando em falar com o consulado brasileiro em Roma mas me dei conta que era um domingo. Enquanto isso, todos diziam que iríamos para a cadeia e fui avisado oficialmente que era um falsário. Nesse momento, tive a ideia fundamental, tirei do bolso uma outra nota do mesmo valor e disse ao pizzaiolo que se ele quisesse eu trocava. O policial aconselhou que o pizzaiolo aceitasse, entregaram-me a nota e eu dei-lhes uma igual. O policial assumiu sua função e disse: “Vou resolver o problema”. Foi ate à porta com as duas notas na mão, colocando-as contra o sol e disse em voz alta: “A NOVA É BUONA, O SENHOR ESTÁ LIBERADO”. Nunca esperei tanto por um ônibus na minha vida, a hora que demoraria para chegar valeu por 4 ou 5. Apesar disso, fiquei muito contente. Não era um falsário.

(Carlos Alberto Chiarelli foi ministro da Educação e ministro da Integração Internacional – E-mails para: carolchiarelli@hotmail.com)

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