Domingo, 09 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de novembro de 2025
O tornado que devastou cidades da região Centro-Sul do Paraná nesta sexta-feira (7) – e atingiu o índice EF3 na escala Fujita, usada internacionalmente para medir a intensidade e os danos provocados por esse tipo de fenômeno, em uma escala que vai até 5 – pode estar entre os mais fortes já registrados no Brasil. A avaliação é do pesquisador Daniel Henrique Cândido, doutor em geografia pela Unicamp.
Segundo ele, o País tem um histórico expressivo de tornados e ocupa uma posição de destaque no cenário mundial. “Continua sendo a segunda área de risco mais intenso de ocorrência de tornados no mundo. Ela só fica atrás do chamado corredor dos tornados nos Estados Unidos”.
De acordo com a agência governamental de meteorologia dos Estados Unidos, National Weather Service, a escala Fujita foi desenvolvida no país estadunidense e adotada em diversos países para avaliar a intensidade dos tornados.
A medição não é feita apenas pela velocidade do vento, mas principalmente pelos danos observados em construções, vegetação e estruturas.
A escala varia de EF0 a EF5:
– EF0 e EF1 representam tornados de menor intensidade, com danos leves;
– EF2 indica destruição parcial de construções;
– EF3 corresponde a danos severos, com residências gravemente afetadas e estruturas colapsadas;
– EF4 e EF5 abrangem os fenômenos mais intensos, capazes de demolir construções sólidas.
Em 2012, Candido defendeu uma tese de doutorado em que catalogou 205 desses fenômenos ocorridos entre 1990 e 2011. Entre eles está um registro de maio de 1992, que atingiu Almirante Tamandaré (PR) e também chegou a EF3, com seis mortos.
Para ele, o de sexta, que também deixou seis vítimas fatais e destruiu 90% do município de Rio Bonito do Iguaçu (PR), pode estar entre os 10 piores já registrados. A lista inclui, ainda, tornados Itu (SP), que deixou 15 mortos em 1991, e de Nova Laranjeiras (PR), com quatro em 1997.
Os tornados são fenômenos atmosféricos menores, mas muito intensos. Eles surgem geralmente de tempestades severas em áreas com grandes variações de vento. O pesquisador explica que o alto número de tornados no país está diretamente ligado às condições geográficas e climáticas da América do Sul. “O motivo desse valor tão elevado na ocorrência de eventos está relacionado exatamente com a situação geográfica do país.” Entenda:
– O Centro-Sul do continente, incluindo Brasil, Paraguai e norte da Argentina, é uma área relativamente plana, com relevo que favorece o encontro de massas de ar;
– As massas de ar acabam sendo canalizadas pela presença da Cordilheira dos Andes, a oeste, e pela Serra do Mar, no litoral brasileiro;
– Isso cria um canal que facilita o escoamento dessas massas de ar, permitindo que avancem de forma mais rápida e intensa;
– Essas condições criam o ambiente ideal para a formação de ciclones e tempestades severas, de acordo com o pesquisador.
“Essas áreas de baixa pressão aumentam a turbulência atmosférica, e quando o ar fica mais turbulento, você tende a ter intensificação de movimentos convectivos.”
Somados, os fatores climáticos e geográficos tornam as regiões Sul e Sudeste mais propensas aos tornados, como demonstra o histórico destacado por Daniel em sua tese:
– em 28 de novembro de 1995, um tornado foi registrado entre Paulínia (SP) e Jaguariúna (SP);
– dez anos depois, em maio de 2005, foi a vez de Indaiatuba (SP) ser atingida por um tornado. Fábricas, prédios municipais e pelo menos 400 casas foram destruídos por ventos que atingiram cerca de 250 km/h;
– no Rio Grande do Sul, as áreas mais suscetíveis à ocorrência de tornados são a faixa litorânea e as imediações do lago Guaíba, com probabilidade em torno dos 25% ao ano;
– em Santa Catarina, as regiões mais propensas à formação do fenômeno estão localizadas também no litoral e no extremo sul do Estado, mais ou menos nos mesmos patamares.