Quinta-feira, 25 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 25 de setembro de 2025
Em um de seus típicos momentos de arroubo, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou ter tido “química excelente” com Lula da Silva, com quem esteve por menos de um minuto nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU.
Os 39 segundos desse encontro não fortuito – se quisesse, Trump poderia tê-lo evitado – foram o suficientes para comportar um abraço e, mais importante, abrir uma fresta para a retomada das relações de alto nível entre os dois países – estremecidas desde que Trump resolveu impor duríssimas tarifas e sanções ao Brasil para forçar o País a deixar livre o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Não nos iludamos: é apenas uma fresta, que pode se fechar a qualquer momento em razão da absoluta imprevisibilidade do presidente americano. No entanto, se a declaração de Trump for para valer, é uma grande oportunidade para uma reaproximação depois de meses de estranhamento e agressões, situação praticamente inédita na história das relações entre Brasil e EUA.
E Lula deve aproveitar essa chance, mesmo que haja o risco, não desprezível, de que Trump o destrate, como fez com tantos outros chefes de Estado. Lula, neste momento, deve entender que questões pessoais são menos relevantes do que a possibilidade de mostrar a Trump que as premissas que nortearam sua decisão de castigar o Brasil são equivocadas.
Como se sabe, Trump justificou o tarifaço contra o Brasil sob o argumento de que o País tem superávit comercial com os EUA. Na verdade, é o exato oposto, há anos. Além disso, o presidente americano exigiu, na prática, que o governo brasileiro interferisse para que o Supremo Tribunal Federal livrasse Bolsonaro da cadeia, o que obviamente é impossível.
Há muitas explicações racionais para o aparente recuo de Trump, a começar pela provável pressão de empresários americanos afetados pelo tarifaço a produtos brasileiros. Em se tratando de Trump, contudo, buscar respostas racionais costuma ser perda de tempo.
O presidente americano já deu diversas demonstrações de que não se move por ideologia, e sim pela possibilidade de lucro. Sendo assim, não se prende a qualquer compromisso institucional ou diplomático. E a história de seu segundo mandato mostra, até aqui, que Trump fica muito feliz quando sai da mesa de negociação com a sensação de que quebrou a banca – mesmo que seja apenas uma ilusão.
Logo, Lula fará bem se deixar o orgulho de lado e demonstrar vontade genuína de oferecer algo aos EUA. Há espaço para tratativas em áreas como minerais críticos e plataformas digitais. A questão, contudo, é saber se Lula vai pensar no Brasil ou em sua campanha à reeleição.
A dúvida é pertinente, porque Lula, até aqui, tem conseguido faturar politicamente com as agressões americanas ao Brasil, inventando slogans sobre a “soberania” do Brasil e dizendo que seu governo está “do lado do povo” – em contraste com os traidores da Pátria que estão nos EUA empenhando-se em incitar o governo Trump a prejudicar o Brasil e com os bolsonaristas que estenderam uma bandeira americana na Avenida Paulista no Dia da Independência brasileira.
Nesse ponto, contudo, pode-se dizer que, enquanto Trump é totalmente imprevisível, Lula é um velho conhecido – que, se tiver de escolher entre ser estadista e ser candidato, dificilmente surpreenderá. (Opinião/jornal O Estado de S. Paulo)