Quarta-feira, 22 de Outubro de 2025

Home em foco Um ano depois do retorno do Talibã ao poder, Afeganistão está em grave crise humanitária

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O Talibã tomou o poder no Afeganistão em 15 de agosto do ano passado, aproveitando a retirada apressada das forças estrangeiras lideradas pelos Estados Unidos. Desde então, a violência diminuiu, mas a crise humanitária se agravou rapidamente.

A pobreza, que é mais aguda no sul do país, atingiu um nível desesperador, acentuada pela seca e pelo aumento dos preços desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. O Afeganistão está atualmente atolado em uma espiral de crise: financeira, econômica e humanitária.

“Como o Emirado (Talibã) está no poder, não conseguimos encontrar nem óleo”, lamenta uma mulher em um leito de hospital em Lashkar Gah, capital da província de Helmand, junto com seu neto de seis meses que sofre da desnutrição.

“Os pobres morrem esmagados aos seus pés”, acrescenta esta mulher de 35 anos, com o rosto escondido atrás de um véu, sobre o Talibã.

Seu neto recebe tratamento pela quinta vez no Hospital Boost, um amontoado de prédios administrado em conjunto pelo Ministério da Saúde afegão e Médicos Sem Fronteiras (MSF).

“Não conseguimos nem pão seco. Não comemos nada há três ou quatro dias”, se desespera Breshna, mãe de outro paciente.

Milhões de afegãos vivem na pobreza, muitos se endividaram pela primeira vez este ano e algumas famílias desesperadas tiveram que escolher entre vender suas filhas ou seus órgãos.

Ajuda humanitária

Embora os problemas econômicos tenham começado muito antes do retorno do Talibã, a mudança de poder colocou o país de 38 milhões de pessoas à beira do precipício.

Os Estados Unidos congelaram os US$ 9,5 bilhões em ativos do Banco Central, o setor financeiro entrou em colapso e a ajuda externa, que representava 45% do PIB do país, foi subitamente cortada.

“Como você presta ajuda a um país cujo governo você não reconhece?”, diz Roxanna Shapour, da Rede de Analistas do Afeganistão (AAN).

A ajuda humanitária diante de crises como o terremoto de junho, que matou mais de mil pessoas e deixou dezenas de milhares desabrigados, é simples porque é “apolítica, é uma ajuda vital”, explica.

Fundos também foram enviados para financiar ajuda alimentar e cuidados de saúde. No entanto, para projetos de longo prazo é mais complexo.

“Se você chega e diz: ‘vou pagar os salários dos professores’, isso é ótimo. Mas então o que o Talibã fará com o dinheiro que não gastar com os salários dos professores?”, diz Shapour.

Mudanças

Alguns líderes se vangloriaram de um novo tipo de regime, mas para muitos observadores as mudanças até agora são superficiais. Acima de tudo “simbólicas” para bajular o Ocidente, que financiou o país com ajuda externa nos últimos 20 anos, e para não se isolar do sistema financeiro mundial.

A tecnologia ou as relações públicas fazem parte do cotidiano dos dirigentes de Cabul, as partidas de críquete são aplaudidas em estádios lotados e os cidadãos têm acesso à internet e às redes sociais.

As meninas podem frequentar o ensino fundamental e mulheres jornalistas entrevistam funcionários do governo, algo impensável durante o primeiro mandato do Talibã entre 1996 e 2001. Contudo, as mulheres estão excluídas do funcionalismo público. Em março, o líder supremo, Hibatullah Akhundzada, surpreendeu ao anular a anunciada retomada do ensino médio para meninas.

A decisão acabou com as esperanças de um restabelecimento dos fluxos financeiros internacionais, atraindo críticas até mesmo do comando do Talibã em Cabul, alguns dos quais se manifestaram contra a medida.

Música, álcool ou jogos são estritamente controlados em áreas conservadoras, enquanto as manifestações são reprimidas e os jornalistas são regularmente ameaçados ou presos.

Além disso, as novas autoridades ignoraram os apelos ocidentais por um governo inclusivo. O assassinato do líder da Al-Qaeda em Cabul na semana passada levantou novamente suspeitas sobre o compromisso do Talibã de cortar laços com grupos extremistas.

Descontentamento

Hibatullah Akhundzada, cuja autoridade ninguém ousa contestar, não se cansa de repetir que o movimento precisa se manter unido. De acordo com algumas fontes, ele tenta manter um equilíbrio para aliviar as tensões entre várias facções rivais. Mas a raiva está crescendo dentro do movimento. Muitos voltaram para suas aldeias ou foram ao Paquistão para encontrar outro trabalho, acrescenta uma segunda fonte.

As tentativas de diversificar as fontes de financiamento com a lucrativa mineração de carvão provocaram conflitos internos no norte, acentuados pelo sectarismo étnico e religioso.

Essas tensões crescentes podem agravar o conservadorismo dentro do movimento, adverte Michael Kugelman, especialista em Afeganistão no think tank Wilson Center.

“Se os líderes do Talibã começarem a sentir ameaças reais à sua sobrevivência política, eles serão capazes de mudar?”.

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