Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de setembro de 2025
O Sistema Único de Saúde (SUS) completou 35 anos neste mês de setembro como uma das maiores redes públicas de serviço médico do mundo. São realizados cerca de 2,8 bilhões de atendimentos por ano, o que mobiliza aproximadamente 3,5 milhões de profissionais — entre médicos, enfermeiros, agentes comunitários, gestores e equipes de apoio — em todo o País.
A atenção primária, porta de entrada do SUS, tem cobertura potencial estimada em torno de 70%, segundo monitoramento do governo federal.
Origem
A origem do SUS remonta ao período da ditadura militar. Naquele contexto, apenas trabalhadores com carteira assinada e seus dependentes, vinculados à Previdência, tinham direito ao atendimento médico. Boa parte da população, sobretudo a mais pobre, ficava desassistida. Foi nesse cenário que movimentos populares — como o de donas de casa em São Paulo, que se organizaram para exigir acesso universal à saúde — começaram a pressionar por mudanças estruturais.
Na década de 1980, em meio à abertura política, essas mobilizações se somaram ao chamado “movimento sanitário”, formado por médicos, professores, gestores e ativistas que defendiam a saúde como direito de todos e dever do Estado. Surgia então o Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), um embrião do SUS. O modelo buscava descentralizar a gestão, fortalecer estados e municípios e ampliar a cobertura de serviços básicos.
As discussões avançaram na Assembleia Nacional Constituinte de 1987-1988. O artigo 196 da nova Constituição Federal estabeleceu: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Esse marco jurídico consolidou o SUS, que nasceu oficialmente em 1990 com a Lei Orgânica da Saúde.
De lá para cá, o sistema se expandiu e chegou aos impressionantes números, com destaque para o maior programa público de transplantes do mundo.
Assim, da luta de donas de casa e sanitaristas ao texto constitucional, o SUS tornou-se um pilar da cidadania brasileira.
Pilares
O diretor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Mario Dal Poz, entende que a essência do sistema pode ser resumida em cinco pilares:
“A universalidade, que garante a saúde como direito de todos, sem distinções; a integralidade, que assegura atendimento completo em todos os níveis de complexidade; a equidade, tratando desigualmente os desiguais para atender quem mais precisa; a descentralização da gestão; e a participação social, com o controle da sociedade sobre o sistema”, explica.
O especialista também acredita que é uma “ousadia” o SUS operar da forma que funciona em um país das dimensões do Brasil e com uma população numerosa e heterogênea. Ele aproveitou para fazer uma comparação com sistemas de saúde do Canadá e do Reino Unido.
“O principal diferencial do SUS, e talvez sua maior ousadia, é a oferta universal, integral e gratuita no ponto de uso para uma população gigantesca e socialmente heterogênea. Isso ocorre em um país ainda em desenvolvimento e com profundas raízes de desigualdade. Enquanto muitos países desenvolvidos têm sistemas de cobertura universal – como o NHS do Reino Unido ou o Medicare do Canadá –, poucos oferecem o nível de integralidade do cuidado que o SUS se propõe. Isso inclui desde vacinação e atenção básica, passando por transplantes complexos e tratamentos de alta tecnologia, até a distribuição gratuita de medicamentos caros, tudo sem custo direto ao paciente”, destaca.
Abrangência
O SUS abrange desde ações básicas — vacinação, pré-natal e atenção domiciliar — até procedimentos de alta complexidade. O Brasil manteve em 2024 um recorde histórico de transplantes: foram mais de 30 mil procedimentos, resultado da estrutura do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que coordena, normatiza e monitora doação, captação e distribuição de órgãos e tecidos no país. Esse arranjo torna o Brasil referência mundial na oferta pública de transplantes.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é outra peça-chave do SUS. Ele disponibiliza dezenas de imunobiológicos gratuitamente para todas as idades — do recém-nascido ao idoso — e, em 2024, as distribuições de doses ao país superaram a casa das centenas de milhões. As campanhas regulares e a vigilância vacinal foram decisivas para marcos como a certificação da eliminação da pólio e a recertificação do Brasil como país livre do sarampo em 2024.
Além dos serviços rotineiros, o SUS sustenta programas que enfrentam gargalos: mutirões cirúrgicos, unidades móveis, transporte sanitário e o programa “Agora Tem Especialistas”, criado para reduzir espera por consultas, exames e cirurgias. A ideia é articular oferta presencial e itinerante e reduzir filas com ações integradas entre ministério, estados e municípios.
A telessaúde vem crescendo rapidamente como complemento à consulta presencial. Entre 2023 e 2024, o número de teleatendimentos avançou significativamente — chegando a mais de 2,5 milhões em 2024, ante 1,5 milhão no ano anterior — e a estratégia é parte do plano de digitalização do SUS, com núcleos de telessaúde e telediagnóstico espalhados pelo País. (Com informações do jornal O Dia)