Quinta-feira, 15 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 14 de maio de 2025
Os uruguaios se despedem nesta quarta-feira (14), de José “Pepe” Mujica, ex-guerrilheiro que se tornou presidente do Uruguai e referência da esquerda latino-americana. Ele morreu na terça-feira (13), aos 89 anos, em decorrência de um câncer.
Adepto de um estilo de vida austero, fiel à sua retórica anticonsumista, Mujica morreu em sua modesta casa nos arredores de Montevidéu, local que havia escolhido, acompanhado de sua mulher e ex-vice-presidente uruguaia, Lucía Topolansky.
Ela já havia anunciado, no dia anterior à morte, que Mujica estava em estágio terminal de um câncer de esôfago diagnosticado em 2024, que havia gerado metástase.
“Sentiremos muita sua falta, ‘Velho’ querido”, escreveu o presidente uruguaio Yamandú Orsi na rede social X ao anunciar sua morte.
Orsi e Topolansky abriram o cortejo fúnebre às 10h locais, (mesmo horário em Brasília), na sede da Presidência. O cortejo seguiu até o Palácio Legislativo, onde será velado até esta quinta (15), quando será cremado.
Posicionados em ambos os lados da avenida 18 de julho, a principal de Montevidéu, os uruguaios se reuniram para se despedir de seu líder enquanto o caixão passava, em uma carroça funerária puxada por cavalos. “Obrigado, Pepe!” gritaram alguns dos presentes. Outros choraram.
Alguns carregam faixas ou vestem camisetas pretas com frases célebres do ex-presidente, como “no me voy, estoy llegando” (Não estou indo embora, estou chegando, em tradução livre). Das sacadas dos prédios, aplausos enquanto o cortejo passa.
No Congresso, os uruguaios poderão fazer uma última saudação no velório aberto ao público durante a tarde. O governo decretou três dias de luto oficial.
Após as 24h de velório público, Mujica terá seu último desejo atendido: será cremado e enterrado em sua chácara, em Ricón del Cerro, ao lado de sua cachorrinha, Manuela, fiel companheira de entrevistas que morreu em 2018 aos 22 anos.
A partida do “presidente mais pobre do mundo”, como era frequentemente descrito em manchetes internacionais, desencadeou uma onda de mensagens de líderes latino-americanos e figuras da esquerda internacional.
Lula, seu grande amigo e aliado regional, destacou “sua grandeza humana”. “A sabedoria de suas palavras formou um verdadeiro canto de unidade e fraternidade para a América Latina”, escreveu o presidente em visita de Estado a Pequim.
O petista, que construiu uma relação próxima com Mujica ao longo dos anos, lhe entregou a mais alta condecoração do país em dezembro, em uma cerimônia em Montevidéu. Lula anunciou que após retornar de Pequim a Brasília, viajará para a capital uruguaia para se despedir.
O presidente chileno Gabriel Boric, que frequentemente expressava sua admiração por ele e o visitou em fevereiro, também não poupou elogios.
“Pepe querido, imagino que você esteja partindo preocupado com a amargura do mundo hoje. Mas se você nos deixou algo, foi a esperança inabalável de que é possível fazer as coisas melhorarem”, disse Boric.
Em tom mais formal, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica tinha divergências, declarou que “a América Latina se despede de um grande homem que dedicou sua vida à militância e à pátria”.
Do outro lado do oceano, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez destacou que o uruguaio acreditava em “um mundo melhor”.
Pepe Mujica nasceu José Alberto Mujica Cordano em 20 de maio de 1935, em Paso de La Arena, bairro de Montevidéu. Filho de Demétrio Mujica Terra e Lucy Cordano, de ascendência basca e italiana, respectivamente, ele cresceu em uma família humilde juntamente com uma irmã.
O forte espírito antissistema o tornou, na juventude, um dos líderes da guerrilha urbana Movimento de Liberação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar 13 anos de prisão em condições desumanas nas mãos da ditadura.
Uma vez anistiado, em 1985, tornou seu movimento guerrilheiro parte da política por meio do partido Movimento de Participação Popular, dentro da coalizão Frente Ampla, ativa e forte até hoje. Com este arranjo político foi eleito deputado, senador e, por fim, presidente em 2009.
Durante seu mandato, que durou de 2010 a 2015, o ex-guerrilheiro se caracterizou por quebrar o padrão de seus antecessores. Ao discurso direto, caloroso e sem protocolos, o esquerdista somou reformas e decisões durante seus anos como presidente que marcaram o país de 3,4 milhões de habitantes.
A mais inovadora foi a promover a legalização da maconha com um plano inédito que colocou o Estado no comando de tudo, da produção à comercialização.
Também tomou decisões polêmicas, como receber prisioneiros da Baía de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.
Mujica fez campanha pela esquerda até seus últimos dias, sem descuidar da defesa veemente da unidade latino-americana. Sua última participação política pública foi no fim do ano passado, durante a campanha para as eleições presidenciais. Apareceu de surpresa no comício de seu herdeiro político Yamandú Orsi garantindo a ele a vitória.
Em sua última entrevista em janeiro deste ano, deu a notícia: “Estou morrendo”, revelando que seu câncer era metastático e já sem tratamento. Pediu que o deixassem descansar. “O que estou pedindo é que me deixem em paz. Não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu tempo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E um guerreiro tem o direito de descansar”, disse ao jornal Búsqueda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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