Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 23 de dezembro de 2025
No imaginário do Natal, o Papai Noel simboliza presentes, fantasia e criançada feliz. Mas nem sempre foi assim. Durante boa parte do século XX, brinquedos hoje considerados perigosos eram comercializados sem grandes restrições e figuravam entre os desejos de crianças em datas festivas, incluindo o Natal, sobretudo nos Estados Unidos.
Essa mudança de percepção é o ponto de partida do documentário “História Perigosa com Henry Winkler”, da Sky, que estreou em junho de 2025, e que revisita brinquedos infantis que marcaram gerações, expondo como normas de segurança praticamente inexistentes permitiram que produtos com riscos químicos, térmicos e físicos chegassem às mãos de crianças. À luz dos padrões atuais, são itens que dificilmente escapariam da fiscalização – e que o Papai Noel certamente deixaria fora da lista.
Um dos exemplos mais emblemáticos é o Kit de Sopro de Vidro, criado em 1920 pela fabricante AC Gilbert. Pensado para aproximar crianças da ciência, o brinquedo ensinava técnicas usadas por químicos profissionais, incluindo o uso de um maçarico para aquecer vidro a temperaturas extremas. O manual orientava crianças de 8 ou 9 anos a derreter vidro, moldá-lo e soprar objetos a cerca de 1.200 graus, um processo hoje inimaginável para um brinquedo doméstico.
Apesar dos riscos evidentes de queimaduras graves e cortes, a proposta refletia a mentalidade da época, que via a brincadeira como preparação direta para a vida adulta. O que hoje seria classificado como atividade industrial perigosa fazia parte da rotina lúdica de muitas crianças.
Ainda mais controverso foi o Laboratório de Energia Atômica Gilbert U-238, lançado em 1949, também pela AC Gilbert. Desenvolvido com a colaboração de cientistas nucleares, o kit permitia que crianças realizassem experimentos com materiais radioativos reais, incluindo amostras de minério de urânio e um contador Geiger funcional.
O conjunto vinha acompanhado de um manual com cerca de 150 experimentos e garantia ser “absolutamente seguro”. No entanto, especialistas apontam que, ao serem retiradas dos frascos, as amostras poderiam liberar radiação no ambiente doméstico, com potenciais efeitos a longo prazo sobre o DNA. Curiosamente, o brinquedo saiu do mercado não por questões de segurança, mas por seu preço elevado, equivalente hoje a cerca de 600 dólares.
Na década de 1960, a Mattel lançou o Thingmaker’s Creepy Crawlers, um brinquedo que incentivava crianças a criar seus próprios “insetos” de borracha. O processo envolvia despejar plástico líquido em moldes de metal e aquecê-los em uma chapa que podia atingir até 400 graus.
O resultado era divertido, mas o risco era alto. Relatos de queimaduras se multiplicaram, levando órgãos reguladores a intervir. Em 1974, o brinquedo foi retirado do mercado, já sob a vigência de leis mais rigorosas de proteção à infância, sancionadas nos Estados Unidos no fim da década anterior.
Outro caso curioso foi o Super Elastic Bubble Plastic, da empresa Wham-O, popular nos anos 1970. A promessa era simples: bolhas de sabão semipermanentes, semelhantes a balões coloridos. Para criá-las, as crianças sopravam uma substância plástica por um canudo.
O problema estava na composição química do produto, que incluía acetona e outros solventes. A inalação frequente podia causar tontura, nervosismo e uma leve sensação de euforia. O receio de que o brinquedo funcionasse como porta de entrada para o uso de drogas levou pais e escolas a pressionarem por sua retirada do mercado nos anos 1980.
Talvez nenhum brinquedo simbolize tão bem os riscos do passado quanto os dardos de jardim, conhecidos como Jarts. O jogo consistia em lançar dardos com pontas de metal em alvos no chão, uma adaptação doméstica de armas usadas na Antiguidade.
Extremamente populares – havia milhões de unidades em circulação nos anos 1980 –, os dardos causaram milhares de ferimentos ao longo de pouco mais de uma década. Casos fatais envolvendo crianças levaram à proibição definitiva do produto, após registros de acidentes graves, incluindo lesões na cabeça e no tórax.
Fecha a lista a Pistola Mágica de Austin, um brinquedo inspirado em histórias de ficção científica do pós-guerra. O artefato disparava bolas de pingue-pongue com alta velocidade graças a uma reação química entre água e carboneto de cálcio, gerando um gás inflamável.
Capaz de atingir velocidades comparáveis às de armas de baixa potência, a pistola provocou acidentes com queimaduras e impactos. Diante dos riscos, diversos Estados americanos aprovaram leis proibindo armas de brinquedo que utilizassem materiais combustíveis.
(Com O Globo)