Sábado, 12 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 12 de junho de 2022
Um vírus altamente contagioso, transmitido por gotículas de saliva e secreções, que causa uma doença potencialmente letal entre não vacinados. Não estamos falando do Sars-CoV-2, responsável pela pandemia que já se estende por mais de dois anos. Trata-se do Measles morbillivirus, o vírus do sarampo, que tem um potencial ainda mais destrutivo do que o coronavírus devido a sua alta transmissibilidade. Se um infectado transmite o microrganismo causador da Covid-19 para até cinco pessoas, alguém com sarampo pode espalhar a doença para outros 14 indivíduos — ou até mais.
Antes da introdução da vacina, em 1963, e da imunização em massa, a cada três anos eram registradas epidemias de sarampo que chegaram a causar 2,6 milhões de mortes, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Uma das prioridades do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, era vacinar crianças e adolescentes de 9 meses a 14 anos para alcançar uma ampla cobertura. A doença era tão perigosa que, em 1992, o Brasil iniciou o Plano de Eliminação do Sarampo.
Em 2016, o objetivo finalmente foi alcançado: o país recebeu da OPAS o certificado de erradicação da transmissão endêmica da doença, e passou os dois anos seguintes sem registro de casos. Mas a cobertura vacinal já vinha em queda — no ano em que recebemos o certificado, somente 58,9% dos municípios haviam alcançado a meta de vacinar mais de 95% das crianças (em 2013, o índice chegou a 75%). Resultado: em 2018, foram confirmados 10.346 novos casos da doença; no ano seguinte, o número saltou para 20.901.
A situação piorou desde então. Em 2020, mesmo com as medidas de restrição de circulação para tentar conter o avanço da Covid-19 (e que, consequentemente, diminuíram os surtos de outras doenças infecciosas), o país registrou 8.448 casos e dez óbitos por sarampo, segundo o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Em paralelo, a cobertura vacinal seguiu em queda: foi de 93,1% em 2019 para 71,49% no ano passado.
“Ter pessoas morrendo de sarampo chega a beirar o absurdo, pois existe uma vacina segura e eficaz contra a doença”, afirma a pediatra e infectologista Cristiana Meirelles, coordenadora médica da Healthtech Beep Saúde. “Mas a doença não foi erradicada, porque no mundo inteiro continuava circulando. E desde 2015 fomos tendo cada vez menos pessoas vacinadas, até em 2018 voltar a ter casos. Para quem não tinha nada, um ou dois casos já é considerado surto. E começa a nos preocupar cada vez mais.”
O problema é global. Entre janeiro e fevereiro de 2022, mais de 17 mil casos de sarampo foram relatados no mundo, um aumento de 79% em relação ao ano anterior. Embora seja a enfermidade com a situação mais crítica, essa não é a única doença imunoprevenível que vem preocupando especialistas. O sinal de alerta foi aceso para, entre outras, meningite, febre amarela e mesmo poliomielite — depois de 30 anos sem casos, no início deste ano, Israel identificou um paciente com pólio, que foi considerada erradicada das Américas em 1994.
“A possibilidade de um caso desses se deslocar para outro país é alta. A gente tem avião, a circulação é muito grande. E se tiver crianças suscetíveis, pode provocar uma epidemia”, destaca a médica e historiadora Dilene Raimundo do Nascimento, docente do programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
“Entre janeiro e fevereiro de 2022, mais de 17 mil casos de sarampo foram relatados no mundo, um aumento de 79% em relação ao ano anterior”
OMS e Unicef
Recentemente, a confirmação de quase 800 casos de varíola dos macacos em países da Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul — incluindo o Brasil — acendeu mais um alerta entre autoridades de saúde no mundo todo. A doença viral, que é endêmica em partes da África, tem sintomas parecidos com os da varíola humana: febre, dores musculares e de cabeça, além de bolhas na pele. “É preocupante e demanda vigilância, mas não estamos diante de uma doença nova e com potencial de espalhamento como a Covid-19”, analisa o epidemiologista Diego Ricardo Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fiocruz.
Segundo o epidemiologista, existem alguns recursos de contenção que podem ser adotados caso necessário. Um deles é a aplicação da vacina contra a varíola nos grupos mais expostos.
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