Quarta-feira, 24 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de março de 2023
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva já começou com o peso de uma economia em desaceleração, como mostram os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nessa quinta-feira (2) pelo IBGE.
O 4º trimestre de 2022 foi o primeiro a registrar queda em relação aos três meses anteriores desde o 2º trimestre de 2021. O recuo foi de 0,2% contra a janela passada.
Apesar de ser o único resultado no campo negativo do ano — que fechou com alta de 2,9% —, trata-se do desfecho de um processo de perda de força da atividade econômica, visto trimestre a trimestre.
Lula tem, agora, o desafio de reverter o jogo e colocar o crescimento econômico de volta na pauta.
Há, contudo, uma junção de obstáculos a superar. Entre tantos outros, os principais: os juros altos — aqui e no mundo — que desaceleram a atividade, a falta de espaço no orçamento para estimular a economia e a falta de motor para o consumo com o alto endividamento da população.
Economistas reconhecem algumas das medidas adotadas pelo novo governo como importantes para recuperar a atividade econômica, mas não veem resultados palpáveis no curto prazo para que a situação seja revertida ainda em 2023.
Resultado previsível
O primeiro semestre de 2022 teve resultados surpreendentes até mesmo para os mais otimistas. A retomada forte dos serviços alavancou a economia por conta de um efeito da demanda represada pelo consumo no setor.
Além disso, houve ajuda de incentivos ao consumo, como a liberação emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas, o aumento para R$ 600 do antigo Auxílio Brasil, e a criação de um voucher para caminhoneiros e taxistas.
São efeitos que se esgotaram ao longo do ano e assim continuarão em 2023. Em uma frente, o “efeito reabertura” perdeu força. Em outra, não há mais espaço para um aumento de gastos como o que aconteceu em ano eleitoral, promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O consumo foi um grande componente do PIB em 2022 e é um segmento que pesa muito”, afirma Juliana Trece, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
“Como não teremos o mesmo nível de estímulos fiscais e as famílias estão endividadas, o consumo de produtos deve cair, principalmente dos mais caros.”
Sem espaço
Lula anunciou uma porção de medidas para reativar a economia em 2023, mas esbarra na falta de dinheiro para implementá-las. O governo já promoveu um aumento de gasto relevante e precisou gastar capital político antes mesmo de assumir o cargo para aprovar a PEC da Transição.
Mas boa parte desse aumento só deu conta de manter os R$ 600 para o benefício social, que voltou a se chamar Bolsa Família, e para recompor o Orçamento em áreas que Bolsonaro deixou sem verba no fim de governo.
Além disso, estão previstas novas renúncias de receitas com o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física — a priori para R$ 2.640. E ainda estão nos planos o aumento real do salário mínimo para R$ 1.320, por exemplo, que não saiu por estudos de acomodação do gasto extra.
Mas um exemplo claro dos gargalos é o embate entre Planalto e Fazenda no caso da desoneração de combustíveis. Instaurada no ano passado, para relaxar a inflação em ano eleitoral, a medida baixou na marra o preço da gasolina em troca de uma renúncia de receitas para o governo federal e para os estados por meio do teto do ICMS.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), travou uma batalha pela reoneração da gasolina e etanol, pois não pode abrir mão das receitas como fez seu antecessor, Paulo Guedes.
Missão principal de Haddad, o déficit público previsto a ser combatido neste ano é de R$ 228 bilhões. Só com a reoneração de gasolina e etanol, a Fazenda espera arrecadar R$ 28,8 bilhões.
Para a Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore, o governo precisa encontrar um caminho para equacionar o aumento de gastos de forma a recompor o orçamento do que estava subfinanciado enquanto cria uma regra que possa dar credibilidade à dívida pública no longo prazo — e tudo isso sem abrir mão da atividade econômica.
“Acho muito difícil o governo impedir uma desaceleração forte em 2023. Espero algo abaixo do que está hoje no Boletim Focus, que prevê alta de 0,8%. É improvável crescer neste patamar com os juros que temos hoje”, diz a economista.