Sábado, 13 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 13 de setembro de 2025
Citar uma condição comum — como doenças cardíacas — já é suficiente para mostrar que há grandes chances de que seguir uma dieta rica em alimentos ultraprocessados esteja associada a ela. Mas a categoria de alimentos ultraprocessados é ampla e abrangente. Estima-se que represente 73% do suprimento alimentar dos Estados Unidos e inclua produtos estereotipicamente “não saudáveis”, como refrigerantes, doces e cachorros-quentes, além de produtos aparentemente “saudáveis”, como pães integrais, cereais matinais, iogurtes saborizados e leites vegetais.
“É uma mistura de alimentos, alguns dos quais provavelmente são mais prejudiciais do que outros”, disse Josiemer Mattei, professora associada de nutrição na Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan.
Mattei e seus colegas publicaram um dos maiores e mais longos estudos sobre alimentos ultraprocessados e saúde cardíaca até o momento. O estudo analisou os riscos do consumo desses alimentos e identificou quais são os piores.
Um risco geral dos alimentos ultraprocessados
O estudo, publicado na revista Lancet, incluiu mais de 200 mil adultos nos Estados Unidos. Os participantes preencheram questionários detalhados sobre dieta desde o final da década de 1980 e início da década de 1990, repetindo-os a cada dois ou quatro anos por cerca de 30 anos. A maioria era branca e trabalhava como profissional de saúde. Os pesquisadores investigaram como o consumo de alimentos ultraprocessados se relacionava com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Após ajustes para fatores de risco como tabagismo, histórico familiar, sono e exercícios, os pesquisadores descobriram que quem consumia mais alimentos ultraprocessados teve 11% mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares e 16% mais chances de desenvolver doença coronariana em comparação aos que consumiam menos. O risco de acidente vascular cerebral foi ligeiramente mais elevado, mas sem significância estatística.
Em uma análise combinada com outros 19 estudos envolvendo cerca de 1,25 milhão de adultos, os pesquisadores encontraram que quem consumia mais ultraprocessados tinha 17% mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares, 23% mais chances de doença coronariana e 9% mais chances de sofrer um derrame, em comparação aos que consumiam menos.
O tamanho do estudo e a frequência das verificações dietéticas fazem dele “um dos estudos mais robustos” sobre o tema, afirmou Niyati Parekh, professora de nutrição em saúde pública na Universidade de Nova York.
Ainda assim, o estudo tem limitações comuns a pesquisas nutricionais. Os questionários não foram projetados para classificar o grau de processamento dos alimentos, então os pesquisadores tiveram de determinar quais eram provavelmente ultraprocessados posteriormente. Além disso, os nutrientes de alguns produtos, como cereais matinais, podem ter mudado ao longo das décadas, tornando os resultados menos aplicáveis aos alimentos atuais.
Como a maioria dos participantes era branca e bem informada sobre saúde, os resultados podem não se aplicar a toda a população. E, como ressaltou Mattei, esses estudos não provam causa e efeito; mostram apenas associação. O que chama atenção é a consistência global das evidências ligando ultraprocessados à saúde precária.
Separando os “bons” dos “bandidos”
Os pesquisadores também investigaram se certos tipos de ultraprocessados estavam mais associados a doenças cardiovasculares. Entre 10 categorias analisadas, duas se destacaram: bebidas açucaradas, como refrigerantes e ponche de frutas, e carnes, aves e peixes processados, incluindo bacon, cachorros-quentes, produtos de peixe empanados e salsichas.
Quando essas categorias foram excluídas, a maior parte do risco associado aos ultraprocessados desapareceu, disse Kenny Mendoza, pesquisador de pós-doutorado na Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan.
Por outro lado, alguns alimentos ultraprocessados pareceram reduzir o risco de doenças cardiovasculares, como cereais matinais, iogurtes adoçados ou saborizados, iogurtes congelados e sorvetes, além de salgadinhos como pipoca e biscoitos industrializados.
Esses resultados corroboram estudos anteriores, que indicam que carnes processadas e bebidas açucaradas são os tipos mais prejudiciais, enquanto pães, cereais e iogurtes ultraprocessados não apresentam risco ou têm risco reduzido, segundo Maya Vadiveloo, professora associada de nutrição da Universidade de Rhode Island.
Qual é a conclusão?
Entre os especialistas, há consenso em alguns pontos. Priorizar alimentos não processados ou minimamente processados — como frutas, verduras, legumes, nozes e grãos integrais — está associado a melhor saúde, disse Vadiveloo.
Carnes processadas e bebidas açucaradas, por sua vez, têm associação consistente com problemas de saúde, disse Mattei, e devem ser evitadas ou reduzidas.
Isso não significa que apenas esses alimentos sejam prejudiciais, ou que seja seguro consumir à vontade os outros ultraprocessados, explicou Mathilde Touvier, do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica da França. Pesquisas mostram que aditivos como adoçantes artificiais, conservantes e emulsificantes podem estar ligados a câncer e diabetes tipo 2, e estudos adicionais são necessários.
Por enquanto, o fato de um alimento ser ultraprocessado não deve ser o único critério para avaliar sua saúde, concluiu Vadiveloo. Com informações do portal O Globo.