Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Variedades “Vivi todas as loucuras e riscos, sexo, drogas e rock and roll”, diz Tânia Alves

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Tania Alves está de volta. E vem com tudo. Após longo período de ostracismo no audiovisual, mas muita atividade como empresária dona de spas, a atriz integra o elenco de série na Netflix (“Olhar indiscreto”) e filmes inéditos (“TPM, mon amour”, de Eliana Fonseca; “Tudo de bom”, de Ajax Camacho; e “O aniversário do sr. Lair”, Marco de Castro). Também está no longa “Senhoritas”, de Mikaela Plotkin, em que vive Lucy, uma septuagenária moderna e animada, que injeta libido e prazer de viver na rotina pacata de uma amiga a quem vai visitar após anos de afastamento

Aos 72 anos, Tania estreará ainda seu primeiro monólogo em meio século de carreira. Eternizada como Maria Bonita e protagonista do filme “Parahayba mulher macho”, ela agora encarnará uma personagem sem gênero na peça “Criogenia de D. – Ou manifesto dos amores perdidos”. O espetáculo, previsto para agosto é uma adaptação do livro homônimo de Leonardo Valente, lançado em 2021 pela editora Mondrongo e que caiu nas graças de Fernanda Montenegro (ela compartilhou um vídeo lendo o texto no Instagram). A obra gira em torno de D., que transforma a história de seus cinco casamentos falidos numa vingança em formato de livro.

1-O livro trata de dilemas atuais como relações fluidas, traição, fetiches e dramas filosóficos contemporâneos, como medo da solidão. Trata também das nossas hipocrisias. Qual a importância de discutir esses assuntos?

Quando li, fiquei impressionada com a sofisticação literária. O Leonardo conseguiu mergulhar profundamente na alma humana, o livro mexe com todo mundo. Acho que as relações são a grande crise do mundo atual e que a revolução será afetiva. A crise de amor que enfrentamos é o que gera guerra, exploração do homem pelo homem, miséria, intolerância. Falo do amor com “A” maiúsculo, da forma como as pessoas se tratam, da perda da conectividade.

Quando eu era pequena, queria tirar o sofrimento das pessoas. Eu mesma sofria muito em uma família disfuncional. Nunca fui santa, mas queria fazer milagre. Queria também ser todas as pessoas do mundo por um segundo. Virar atriz é a realização desse sonho. Somos um corpo só. Não sou eu quem está dizendo isso, é a física quântica.

2-Por que sua família era disfuncional?

Meu pai era muito violento, autoritário, praticava violência doméstica. Nunca o vi bater na minha mãe, mas já o vi tirar um revólver para dar um tiro nela. Muitas pessoas dizem “ah, que saudade da minha infância”. Eu não tenho a mínima. Estou cada vez mais feliz, amorosa, com menos medo, mais inteira. Sabe quando você liga o “F”? Consegui ligar até para mim mesma no palco, e tudo ficou muito melhor. Tinha muita autocrítica. Estou mais feliz que nunca.

Quero, no mínimo, viver até 100 anos, porque agora é que ficou bom. Quem se acha velho com 40 anos e se acomoda, está perdido. Cuidem dos seus corpos, máquinas altamente perecíveis, porque a melhor parte está por vir. Tudo que aprendi e posso compartilhar com as pessoas, o que pesquiso sobre saúde, qualidade de vida, os relacionamentos que tive…

3-Assim como a protagonista do livro, você está no quinto casamento. Continua acreditando nessa forma de se relacionar? Qual é o acordo atual entre vocês?

Gosto de monogamia sequencial. Um de cada vez. Se não está bom, vai para o esquenta de outro. Já estudei muito sobre fidelidade. Sei que não é da natureza humana, mas emocionalmente não seguro a onda. Achava que meu casamento não ia dar certo, porque ele é 30 anos mais jovem, então disse: “Só te peço que use camisinha, não me deixe saber e cuidado porque sou muito inteligente”.

Porque tem aquele momento que é só seu, ninguém precisa saber, né? Se acontecer da minha parte, a prioridade é não deixar ninguém sofrer. Não é abrir mão de um momento imperdível, mas ter certeza de que ninguém vai ficar mal.

Duas pessoas ficarem juntas durante décadas num amor verdadeiro, com saudade, querendo ficar juntas, sintonizadas e namorando é para poucos, né? Só conheço dois casais assim. Era o que eu queria desde o primeiro, sou muito romântica.

4-Sua personagem na peça não tem gênero. Como vê as transformações de comportamento da sociedade, as questões de gênero, as diferenças que trazem as novas gerações, hoje navegando na fluidez sexual?

Acho maravilhoso. Rodei um filme com mulheres e todas falavam de suas namoradas. Muitas mulheres não querem ter filhos, vejo filhas de amigos que escolhem ter e não querem nem saber do pai. O desprendimento das mais jovens é incrível.

E ninguém tem que achar nada, as pessoas devem fazer o que querem desde que não prejudique o próximo. Essa é a minha única bandeira. O fato de a protagonista do livro não ter gênero universaliza a história ainda mais. Quero viver mais 100 amor porque tem muita coisa maravilhosa por aí. Acho que o ser humano ainda vai ter um planeta amoroso.

5-Também encarnou personagens sensualizados. Chegou a se sentir objetificada ou a sensualidade sempre foi uma característica pessoal sua?

Talvez vejam em mim um prazer de viver tão grande que chamam de sensualidade. Mas também fiz “Morte e vida severina” (filme de Zelito Viana, de 1977) com dentes estragados, uma sertaneja maltratada pela vida em “Órfãos da terra” (especial da Globo de 1984)…

6-Teve que fazer um esforço dobrado para sobreviver nesse meio com padrões difíceis de romper?

Sempre fiz muito esforço. Minha família era contra, fiquei à beira da indigência morando num teatro. Fazíamos uma peça que ninguém ia ver porque era teatro nordestino, cordéis (com o Grupo Chegança, de teatro mambembe). Éramos 16 pessoas e um empresário quis nos levar do Rio para São Paulo em troca de hospedagem e alimentação. Mas a hospedagem era no teatro. A gente forrava o chão de jornal para dormir.

Já fiz espetáculo num leprosário no interior da Amazônia em troca de comida. A resiliência e a paixão pelo teatro eram maiores que tudo. Lembro de mim e Elba Ramalho fazendo uma peça sobre a chegada do Lampião ao inferno. As duas de biquíni, chifre de diaba, numa temperatura de zero grau. E totalmente felizes. A gente era dessas.

Não entrava dinheiro. Uma menina do grupo fazia programas e dividia o dinheiro que ganhava com a gente. Pergunto para jovens atores hoje e eles me falam que não existe mais ninguém assim.

7-Namorou muito nos anos 1970, época do amor livre?

Muito, era um absurdo! Mas sempre desde que ficasse mais feliz do que já sou sozinha. Nos anos 1970, era diferente da compulsão de hoje, que é consumista. Era “faça amor, não faça guerra”. Mas era amor mesmo. Mesmo que depois você não soubesse nem o nome da pessoa, o que aconteceu várias vezes comigo, sempre teve amor.

A gente olhava no olho da pessoa e dizia “eu te amo”. E amava. Queríamos fazer revolução pelo amor, resgatar o amor verdadeiro e acabar com o falso moralismo das instituições, da Igreja… Sobrevivi apesar de toda essa loucura. Foi muito bom, ainda bem que vivi essa época. Aquilo mudou o mundo.

8-Transou com mulheres?

Sim, claro. Tive experiências muito agradáveis, aquela maciez. Mas a preferência é pelo sexo oposto, gosto desse embate, desse jogo das diferenças. É mais intenso, a pressão é maior.

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