Sábado, 14 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de outubro de 2022
Na tela, diante de uma sala de audiências silenciosa, um avião A330 voa entre o céu e o oceano. No julgamento do acidente com o voo 447 entre Rio e Paris, especialistas refizeram os quatro minutos e meio que antecederam a tragédia aérea, ocorrida em 1º de junho de 2009.
No terceiro dia do julgamento por homicídios involuntários da Airbus e da Air France, quatro membros do primeiro colégio de especialistas, nomeados durante a longa investigação que se seguiu ao desastre, detalharam seu trabalho. Após a descoberta das caixas-pretas, dois anos após o acidente, 3.900 metros no fundo do Atlântico, eles foram encarregados de explorar seus componentes.
Antes da possível divulgação da trilha sonora do Cockpit Voice Recorder (CVR), solicitada pelas famílias das vítimas, os especialistas descreveram ao tribunal de Paris os últimos minutos do voo AF447.
Na noite de 31 de maio de 2009, o avião decolou do Rio de Janeiro com 228 pessoas a bordo, e o voo transcorria normalmente, resumiu um dos especialistas, com a ajuda de um mapa e gráficos. O A330 entrou na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), área meteorológica perigosa naquela época do ano, caracterizada por grandes nuvens, trovões e chuvas violentas.
O avião estava nas mãos dos dois copilotos, tendo o comandante ido descansar, quando, às 2h10 do Horário Universal, três toques curtos sinalizaram que o piloto automático estava desengatando. Após o “procedimento”, um dos copilotos declarou: “Tenho os comandos”, descreveu o especialista, especificando que, em um intervalo de dez segundos, “seis alarmes se sucederam”.
Os pilotos rapidamente perceberam que haviam perdido velocidade. As indicações que recebiam a esse respeito eram errôneas. A altitude também estava subitamente cerca de 122 metros abaixo dos 10.700 metros exibidos anteriormente.
“Isso não correspondia à realidade”, explicou o especialista: “Era um efeito do congelamento dos tubos de Pitot, que, obstruídos por cristais de gelo, deixaram de funcionar em menos de um minuto. Em resposta, o copiloto fez com que o avião subisse, e ele passou a ganhar altitude e oscilar para os lados.
O alarme de estol soou, “um primeiro elemento que desestabilizou a tripulação”, indicou.
Incompreensão
Em seguida, soou o alarme de desvio de altitude, que já havia soado antes, por causa da falsa perda de altitude. Dessa vez, o motivo foi o contrário, uma “altitude maior” do que o normal.
No meio da noite, “podemos imaginar que o piloto não percebe, necessariamente,” essa diferença, explicou o especialista. Logo, o alarme de estol começou a soar novamente, por 54 segundos. E o avião, depois de atingir uma altitude de 11.600 metros, não teve mais sustentação.
“Temos uma pilotagem agitada, totalmente desordenada”, comentou o especialista. O capitão retornou à cabine, chamado por seus colegas. “Perdemos o controle do avião”, disseram a ele.
O aparelho “estava caindo a 4,5 quilômetros por minuto, o que é considerável”:
“Nos dois minutos seguintes até o impacto, a incompreensão dominou, a situação era confusa”, comentou o especialista.
Quando o alarme de proximidade do solo soou, eles tentaram levar o avião para cima.
“Até o final, houve um diálogo entre a tripulação, que tentava descobrir o que estava acontecendo”, destacou o especialista. O avião atingiu o mar a 300 km/h, quase na horizontal.
Após as explicações, os especialistas divulgaram uma reconstituição digital. Durante quatro minutos e meio, o silêncio tomou conta da sala.
No restante da audiência, surgiram divergências entre um dos especialistas e os outros três em determinados aspectos do relatório. Suas conclusões, no entanto, questionam claramente o papel da Air France e da Airbus no que diz respeito ao congelamento dos tubos de Pitot.
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