Segunda-feira, 02 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 26 de outubro de 2024
Um pensamento tem invadido a cachola de Zélia Duncan: “Com quem vão ficar meus violões?”. Prestes a completar 60 anos nesta segunda-feira (28), ela deseja viver muito, mas diz que já caminhou o suficiente para saber que coisas acontecem de repente.
Por via das dúvidas, tratou de deixar anotadas todas as coordenadas sobre o destino de cada um de seus instrumentos. Um dos mais queridos já tem dono: o violonista Webster Santos, companheiro de banda há 20 anos.
“Outro dia, perguntaram como quero ser lembrada. Não consigo pensar desta maneira. O que quero que tenha continuidade são as coisas que usei e que outra pessoa pode usar. O mundo está acabando, vou pensar se daqui 40 anos vão cantar “Catedral”? (risos). Não tenho filho, tenho violão”, brinca.
É assim desde que a cantora e compositora surgiu na cena artística há 43 anos: o amor pela música move tudo. E é ele novamente que vai reger as celebrações pela nova idade.
Etarismo
Tornar-se oficialmente idosa tem lá suas vantagens. Zélia fez a constatação após teste drive em filas de aeroportos. Ela diz que vai tirar correndo o “cartão com ‘idoso’ escrito em letras garrafais” para ocupar o lugar de prioridade. Mas faz uma reivindicação:
“O fim da bengalinha na placa!”, afirma para, em seguida, refletir sobre sobre etarismo. “É louco… Nesse tempos horríveis, a primeira coisa que haters fazem é te chamar de velha.”
Mulher, então…
“É um prato perfeito. A mulher pode ter 40 anos que já fazem isso. Mas fui me treinando. Como dizia meu avô, precisamos ter costas de couro de anta. Artista, então, apanha em qualquer momento da vida. Vejo pessoas com tantos serviços prestados levando porrada”, analisa. “Temos direito de crescer, errar. Uma música minha diz: ‘Errar é útil’. O problema é errar em disco, porque está gravado (risos). Antes, te julgavam sem poder trocar a faixa com o botão, tinha que levantar para mudar a agulha. Hoje, se a música não agradou na introdução, nem te dão a chance de chegar ao refrão. Se faz música de três minutos, é completamente doida.”
Os erros Zélia mata no peito e assume. Diz que teria feito algumas coisas diferentes e que carrega lá seus arrependimentos. Mas segue reiterando os riscos que bancou:
“Para um artista, não arriscar é muito arriscado. É ficar na mesmice. Nunca fiz um disco que não quisesse, e meus ‘não’ tiveram preços. Mas não caio na esparrela de ficar me lamentando. Não devemos ter inveja da gente mesmo. Há certa tendência a dizer, ‘pô, naquela hora, eu estava na crista da onda’. Não tenho inveja de juventude. Não porque sou incrível, me trabalhei. Vivemos num mundo onde a juventude te é cobrada todo dia, mas não caio nessa.”
Ligar o “dane-se” é ganho da maturidade.
“Estou nessa com força. Não sou infalível. Mas não quero mais saber de tudo que acontece, ser o arauto da novidade. Sei como é estar em evidência, quererem saber até o papel higiênico que usa. Saquei isso quando estourei com ‘Catedral’. É divertido, gostoso, mas tudo bem estar em outro lugar”, afirma. “Tenho minhas melancolias, nostalgias. Como ter pena de não saberem mais a ficha técnica de um disco. Mas com 14 anos, queria que cantar fosse a minha vida, e foi. Quando a tristeza chega, negocio comigo. Quero olhar as cadeiras cheias. Envelhecer em público não é fácil, mas acho que sou muito mais legal hoje.”
No Ar: Pampa Na Tarde