Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 1 de setembro de 2023
A ata de uma reunião de 2 de dezembro de 2022 da Americanas revela que a varejista planejava cortar pelo menos R$ 1 bilhão em investimentos previstos para 2023 antes mesmo de explodir a crise da empresa, em janeiro. Ela traz termos duros, como “não podemos ter a queima de caixa que estamos tendo” e “gastamos todo o dinheiro e temos de ir à guerra”. O documento diz ainda que o corte devia ser feito de “forma inteligente”.
O texto mostra que o executivo Sergio Rial, que assumiria como CEO da empresa, tinha conhecimento de que a varejista passava por dificuldades financeiras. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Rial mandou que esses problemas constassem da ata. Em 11 de janeiro, a Americanas divulgaria fato relevante admitindo um rombo de cerca de R$ 20 bilhões em razão de “inconsistências contábeis”. A questão é definir a extensão desse conhecimento, pois a empresa já havia divulgado um rombo de R$ 212 milhões no 3.º trimestre. Rial nega que conhecesse “as inconsistências contábeis antes de assumir o cargo de CEO”.
A existência do documento interno de cinco páginas, do qual a reportagem obteve uma cópia, foi revelada pelo site Metrópoles. Ele relata a reunião para o planejamento de 2023 da empresa e tem no alto a inscrição “reservada”. Participaram dela Rial, o diretor financeiro, André Covre, além dos diretores Anna Saicali, Marcio Cruz, Timótheo Barros, João Guerra e Vanessa Carvalho, que secretariou o encontro.
São três os trechos que as pessoas envolvidas com as investigações do caso alegam que precisam ser esclarecidos. O primeiro é uma advertência, no segundo parágrafo: “Não podemos ter a queima de caixa que estamos tendo”. O segundo está no quarto parágrafo. “Importante levarmos em consideração o asset (ativo) da empresa achado, fizemos um follow on (venda de ações) espetacular no momento certo (2020), mas gastamos todo o dinheiro. Agora precisamos de dinheiro e temos de ir à ‘guerra’.”
No final do documento, o terceiro trecho que merece atenção, segundo os investigadores, é o que registra que o capex (as despesas com investimentos) da empresa precisava ser reduzido “pelo menos em R$ 1 bilhão de forma inteligente” em relação ao previsto para 2023. O documento admitia ainda que talvez fosse “necessário interromper (…) alguns projetos”.
Os investigadores agora pretendem saber o papel dos envolvidos – bancos, auditores, executivos e controladores – na história e se agiram com a diligência devida em uma fraude que ocorria, apontam eles, havia sete ou oito anos.
Resposta
Rial afirmou por meio de sua assessoria que “a reunião de 2 de dezembro de 2022, realizada com a presença do futuro CFO André Covre, teve por agenda apresentá-lo aos demais diretores e discutir, dentre outros temas específicos, o orçamento de 2023, conforme provas telemáticas existentes”. “Contudo, não foram apresentadas nessa reunião as projeções do quarto trimestre sob a alegação de que o Natal teria grande impacto ainda nas vendas.”
A Americanas não se manifestou. O ex-diretor financeiro André Covre não foi localizado, assim como Miguel Gutierrez, que antecedeu Rial no comando da Americanas por 20 anos.
Versões
Há uma guerra de versões sobre o que aconteceu na Americanas e sobre quem são os responsáveis pela fraude. Bancos que têm bilhões de reais a receber da empresa contrataram exércitos de advogados e contadores para revisar documentos internos e ler a troca de e-mails de ex-executivos da varejista em busca de pistas.
Rial é um dos nomes-chave para entender o que se passou na empresa. Ex-presidente do Banco Santander por quase sete anos, foi convidado a presidir a Americanas por Carlos Alberto Sicupira, um dos principais acionistas da companhia, em meados de 2022.
No dia 19 de agosto de 2022, a Americanas anunciou a mudança na direção. Rial só assumiu a presidência em janeiro de 2023, mas atuou como consultor da empresa ao longo do segundo semestre de 2022, para conhecer por dentro a empresa. Para tanto, recebeu R$ 600 mil. Daí a razão de ele ter participado da reunião com a antiga diretoria.
Rial foi questionado na CPI da Americanas, na Câmara dos Deputados, sobre por que ele, que foi presidente do Santander, não consultou o sistema do Banco Central para checar o real endividamento da companhia. “A empresa tinha muita confiança do mercado. Fui vítima como muitos outros.”
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