Domingo, 19 de Maio de 2024

Home em foco A desconfiança no sistema eleitoral, impulsionada por Donald Trump, mesmo antes da votação, ameaça um dos pilares da democracia nos Estados Unidos

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Havia passado de 2 horas da manhã de 4 de novembro quando Donald Trump entrou em uma das salas de conferência da Casa Branca e anunciou: “Francamente, ganhamos esta eleição”. Nada na apuração parcial da disputa sugeria a vitória de ninguém, mas estava claro para seus assessores que Trump insistiria na estratégia anunciada meses antes – a tese que ficou conhecida como a “Grande Mentira”, uma espécie de delírio coletivo de que a eleição de 2020 havia sido fraudada em favor de Joe Biden para tirá-lo da presidência dos EUA.

As alegações de fraude foram sepultadas na Justiça, uma após a outra. No entanto, um ano depois, elas não apenas seguem vivas nos EUA, como alimentam o “trumpismo”, que domina o Partido Republicano, mesmo com a derrota do ex-presidente, e ameaça o futuro político do país.

Desde novembro do ano passado, pesquisas indicam que há uma parcela sólida da sociedade americana que acredita que o resultado de 2020, anunciado em 7 de novembro, após uma apuração arrastada, é ilegítimo. Em um dos levantamentos mais recentes, do instituto

Morning Consult em parceria com o site Politico, 35% dos eleitores registrados disseram que a eleição deveria ser anulada.

O resultado é reflexo da desconfiança dos republicanos no sistema eleitoral – a despeito de os setores da população que costumam votar em democratas serem, historicamente, serem os maiores alvos das investidas para limitar o direito ao voto nos EUA.

CREDIBILIDADE. Se em 2020 o ataque à integridade da eleição servia para Trump como uma justificativa por seu mau desempenho nas pesquisas, em 2021 tornou-se um álibi para o ex-presidente seguir na arena política e manter acesa a chama de uma possível candidatura em 2024. É consenso entre especialistas que a sobrevida da “Grande Mentira” até hoje desafia a credibilidade das próximas votações, a sustentação democrática e a ordem social dos EUA.

“Ele criou uma profunda desconfiança da sociedade americana no governo e, mais especificamente, no processo eleitoral. É um desafio fundamental para os princípios americanos, para o que é mais básico na democracia: a confiança de que você pode votar em alguém que te representará”, disse Michael Traugott, cientista político e professor da Universidade de Michigan.

Mas as acusações de fraude eleitoral feitas por Trump não se limitam mais à disputa de 2020. “Eu não acredito na integridade das eleições do Estado de Virgínia. Muitas coisas ruins aconteceram e estão acontecendo”, declarou Trump, na segunda-feira (1°), véspera da eleição para o governo estadual. A votação foi a primeira disputa local em que seu poder junto ao eleitorado republicano foi testado.

Dos eleitores democratas, 76% acreditam, com mais ou menos confiança, que as eleições legislativas de 2022 serão livres e justas. No grupo dos republicanos, apenas 48% pensam a mesma coisa. Mais da metade dos eleitores registrados nos EUA (entre republicanos, democratas e independentes) diz que votaria em candidatos ao Congresso que defendem uma investigação dos resultados eleitorais do ano passado.

“Há uma perspectiva de que as eleições para o Congresso e presidenciais sejam canceladas em 2022 e 2024”, afirma Jennifer Mccoy, professora de ciência política da Universidade do Estado da Geórgia e especialista em democracia e polarização. “Algumas das novas leis estaduais vão além da supressão de eleitores para realmente permitir que legislaturas partidárias, lideradas pelos republicanos, intervenham na administração eleitoral e cancelem a certificação do vencedor”, disse a especialista.

Sem uma justiça eleitoral centralizada, cada Estado americano organiza localmente seu sistema eleitoral. Neste ano, Estados como a Geórgia, que têm maioria republicana no Legislativo e, no ano passado, deram vitória a Biden, aprovaram leis que ampliam a esfera de influência partidária na certificação da eleição. “O destino de nosso sistema democrático dependerá desproporcionalmente dos tribunais nas contestações que surgirem entre as eleições”, afirma Traugott.

A multidão que frequenta os comícios de Trump, nos últimos três meses, passou a acreditar que as mentiras sobre a fraude na eleição de 2020 eram verdade, ainda que não haja nenhum lastro em fatos. A camiseta com a frase “Trump venceu” é quase um uniforme entre os participantes desses eventos.

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