Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

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Uma das possíveis guinadas dos mercados globais está ocorrendo agora: a inflação nos Estados Unidos prega peças nos investidores e, em vez de cair, ensaia alta ou mantém-se firme fora da meta. Com isso, o dólar sobe, pressiona as moedas dos emergentes e realinha as expectativas para as taxas de juros em países como o Brasil. O movimento mudou as apostas sobre o nível final da Selic – uma parte importante dos analistas o vê agora mais perto da faixa 9,5%-9,75% do que de 9%, aposta anterior.

O alerta para os investidores soou quando o índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA aumentou de novo, de 3,2% para 3,5% em março. Em fevereiro, havia subido de 3,1% para 3,2%. Como o Federal Reserve não mexeu nos juros, que permanecem os maiores em 22 anos, o cenário piorou bem. Os títulos do Tesouro americano de dois anos passaram a pagar perto de 5% e os de 10 anos, acima de 4,5%. Anteontem, o Fed divulgou a ata da reunião mais recente, e a maioria dos argumentos passa longe da ideia de iniciar em breve o processo de corte dos fed funds.

Em primeiro lugar, os membros do Fed não viram qualquer sinal que lhes desse confiança de a inflação está se movendo sustentavelmente rumo à meta de 2%. Alguns participantes da reunião indicaram que há riscos geopolíticos em cena que podem criar gargalos importantes na oferta ou aumentos relevantes nos custos do transporte marítimo que podem pressionar os preços para cima, derrubando as taxas de crescimento. Os ataques de Israel a Gaza e da Rússia à Ucrânia, além dos ataques houthis nas rotas de escoamento de petróleo no canal de Suez, podem aumentar os preços da energia, colocando um risco altista na inflação.

Antes da divulgação da inflação ao consumidor de março, os mercados já registravam um recuo no ritmo previsto de cortes futuros nos fed funds, de três para duas reduções de 0,25 ponto percentual até o fim do ano. Depois que a ata do Fed não sinalizou a menor urgência de que o BC americano vá reduzir os juros em futuro próximo, as apostas dos investidores se distanciaram ainda mais dos prognósticos otimistas do início do ano. Com a alta discreta do CPI e de seu núcleo, alguns investidores passaram a sugerir que o afrouxamento da política monetária não mais terá início em julho, mas depois de setembro, com chance crescente de apenas um corte em 2024. Uma ala dos investidores começou a desenhar a paisagem de “no landing”, ou seja, a economia americana não desaceleraria, apesar da forte restrição monetária, e a inflação se manteria acima da meta.

A reversão das expectativas coloca problemas para o processo de acomodação monetária nos emergentes. No Brasil, as taxas futuras chegaram a saltar acima das vigentes quando se iniciou o processo de redução dos juros, em agosto. O boletim Focus mostrou ligeiro deslocamento no sentido contrário às metas do IPCA de 2024 e 2025, e pode se afastar mais dependendo de variáveis domésticas como o nível de evolução dos salários e do emprego – que começa a ser considerado incompatível com reduções adicionais da inflação -, o diferencial de juros em relação aos EUA, o desempenho fiscal e, como resultado da interação desses fatores, o grau de valorização do dólar em relação ao real.

A aprovação pela Câmara dos Deputados, sob inspiração do ministro da Casa Civil, Rui Costa, de um jabuti que subiu no dorso da recriação do Dpvat, seguro contra acidentes com veículos, para permitir já um aumento de gastos de R$ 15,7 bilhões, e assim obter recursos para emendas parlamentares vetadas pelo presidente Lula, que serão derrubadas, arranhou ainda mais a credibilidade das metas fiscais. A fragilidade delas aumentou depois que os ministros da área econômica insinuaram que o tímido superávit planejado para 2025, de 0,5% do PIB, se tornou impraticável.

A redução de 0,5 ponto da Selic na próxima reunião do Copom está assegurada, mas os passos seguintes se tornaram incertos. Para o presidente do BC, Roberto Campos Neto, o que ocorre nos EUA pode não ocorrer aqui. Ontem, ele apontou o canal do câmbio como fator de transmissão da mudança, que primeiro afeta as expectativas de inflação e “depois afeta a inflação”. Ele afirmou que essa dinâmica não está acontecendo. O dólar, no entanto, se valoriza em relação ao real, o que é uma oscilação recorrente, mas uma mudança de patamar consolidada seria preocupante para a evolução do IPCA. O horizonte de queda da inflação tornou-se nublado e duvidoso. (Opinião/Valor Econômico)

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