Quarta-feira, 26 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de novembro de 2025
Em um estudo publicado no JAMA Neurology, pesquisadores associaram a apneia obstrutiva do sono, uma condição que causa pausas temporárias na respiração durante o sono, à doença de Parkinson.
A doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva que causa tremores, rigidez e dificuldade para falar, se movimentar e engolir.
Não existe cura para a doença de Parkinson, segundo Lee Neilson, neurologista da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, que liderou o estudo. No entanto, os pesquisadores descobriram que o tratamento da apneia do sono com um aparelho de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) estava associado a uma menor probabilidade de desenvolver Parkinson.
“Portanto, identificar aqueles com maior risco de desenvolver a condição neurológica e intervir precocemente pode ter o maior impacto”, ressalta Neilson.
Os pesquisadores analisaram registros médicos de mais de 11 milhões de veteranos americanos tratados pelo Departamento de Assuntos de Veteranos entre 1999 e 2022. O grupo era predominantemente masculino, com idade média de 60 anos, representando o grupo de maior risco para apneia do sono, disseram os especialistas.
Então, descobriram que cerca de 14% dos participantes haviam sido diagnosticados com apneia do sono entre 1999 e 2022, de acordo com seus registros médicos. Ao analisarem a saúde desses participantes seis anos após o diagnóstico, constataram que os veteranos com apneia do sono apresentavam quase o dobro da probabilidade de desenvolver a doença de Parkinson em comparação com aqueles que não haviam sido diagnosticados com apneia do sono.
Isso se manteve mesmo após o controle de outros fatores que poderiam influenciar o desenvolvimento da apneia do sono ou da doença de Parkinson, incluindo alto índice de massa corporal e condições como diabetes, hipertensão, lesões cerebrais traumáticas e depressão.
Aqueles que começaram a usar máquinas CPAP nos dois anos seguintes ao diagnóstico apresentaram uma probabilidade cerca de 30% menor de desenvolver a doença de Parkinson em comparação com aqueles que não utilizaram o tratamento.
Os aparelhos CPAP sopram ar através de uma máscara facial para manter as vias aéreas abertas. Quando usados corretamente e de forma consistente, esses dispositivos são eficazes no tratamento da apneia do sono. No entanto, muitas pessoas os consideram barulhentos ou desconfortáveis e não os utilizam por tempo suficiente para usufruir de seus benefícios.
O estudo não comprovou que a apneia do sono causa a doença de Parkinson, nem que o uso de aparelhos CPAP possa prevenir a doença, de acordo com Sairam Parthasarathy, médico e pesquisador do sono da Universidade do Arizona, que não participou da nova pesquisa.
Ainda assim, ele afirmou que o estudo era importante – e, até onde sabia, o maior e mais robusto até o momento a sugerir a associação entre apneia do sono e doença de Parkinson. Ele espera que isso incentive mais pesquisas sobre essa relação.
Cerca de 13% dos casos de Parkinson em todo o mundo estão ligados a mutações genéticas, e algumas pesquisas sugerem que toxinas ambientais, como pesticidas e metais pesados, também podem aumentar o risco.
Ainda não está claro como a apneia do sono pode influenciar o quadro, como explica Ronald Postuma, professor de neurologia da Universidade McGill, em Montreal, que não participou da nova pesquisa.
Os autores do estudo levantaram a hipótese de que, ao limitar o oxigênio ao longo do tempo, a apneia do sono poderia causar danos suficientes às células cerebrais a ponto de elas deixarem de funcionar corretamente, contribuindo para a doença de Parkinson.
“A condição também pode interferir no sistema de remoção de resíduos do cérebro, chamado sistema glinfático, que funciona principalmente durante o sono”, aponta Gregory Scott, professor assistente de patologia na Escola de Medicina da OHSU e coautor do estudo.
Alguns cientistas afirmaram que isso também pode explicar a ligação entre apneia do sono e demência.
Será necessário muito mais pesquisa para confirmar qualquer uma dessas teorias. Para Parthasarathy, ainda assim, faz sentido que uma condição do sono que limita regularmente o oxigênio que chega ao cérebro possa contribuir para uma doença neurológica como o Parkinson.
“Não é uma descoberta utópica”, indica.
Se o estudo incentivar mais pessoas a procurarem tratamento para apneia do sono, isso será positivo, concordaram os especialistas com quem conversamos. Os aparelhos CPAP podem ser incômodos e difíceis de usar, segundo Scott, mas seus benefícios podem ser inestimáveis.