Quinta-feira, 23 de Outubro de 2025

Home Economia Após quase um ano e meio de alta de juros, a economia dos Estados Unidos continua a exibir vitalidade

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Passado quase um ano e meio de alta de juros e de uma política monetária contracionista, a economia norte-americana continua a exibir uma intrigante e incômoda vitalidade. No ciclo mais rápido de elevação das taxas em 40 anos, o desemprego mal aumentou, o mercado de trabalho continua aquecido, o consumo segue vigoroso e a inflação resiste a cair.

Os dados divulgados na última semana contradizem alguns anteriores. O PIB americano do segundo trimestre foi revisto para baixo, a um crescimento anual de 2%. O consumo no mês de julho, porém, subiu acima da expectativa, para 0,8% e, mais preocupante, a inflação medida pelos gastos pessoais de consumo, a preferida do Federal Reserve, assim como seu núcleo, aumentou. O PCE avançou de 3% para 3,3%, e o núcleo, que exclui as variações de alimentos e energia, foi de 4,1% para 4,2% em um ano.

Dados pontuais não mudarão a orientação do BC americano que, já bastante avançado no ciclo de aperto, com juros a 5,5%, reafirmou que procederá com muita cautela nas próximas reuniões diante do dilema entre não subir mais os juros e ratificar uma inflação que se encontra ainda muito acima da meta de 2% ou subir mais as taxas, o que poderia causar danos desnecessários à economia. Boa parte dos investidores aposta que os juros não subirão mais, a inflação vai cair e a economia realizará um “pouso suave”, evitando a recessão. O Fed não compartilha dessa visão, mas também não a descarta.

A mais recente visão do futuro da política monetária foi delineada por Jerome Powell, presidente do banco, em encontro anual em Jackson Hole. Qualitativamente, o discurso não difere da ata da ultima reunião do Fed. Há a promessa de que o banco não esmorecerá até que a inflação rume claramente para a meta – e a certeza de que isto ainda levará algum tempo para ocorrer. Uma das dúvidas é se a dose de juros já aplicada é suficiente para atingir o objetivo, dada as defasagens de tempo entre o aumento e seus efeitos econômicos, ou se serão necessárias doses adicionais. “Estamos navegando guiado pelas estrelas com um céu carregado de nuvens”, resumiu Powell.

O mapa da conduta da inflação desenhado por Powell é conhecido. Até agora, a inflação de bens, com o aperto monetário, declinou forte e rapidamente. O mesmo desempenho não teve a inflação do setor imobiliário, mas o presidente do Fed acredita que o aumento das hipotecas, que atingiram 7% ao ano, reduzirá a variação dos preços no setor. O problema principal está localizado no setor de serviços não-residenciais (saúde, acomodações, transportes etc), com uma variação de preços tida no máximo como “modesta”. Esse tipo de serviços compõe metade do núcleo de inflação dos gastos pessoais e seu recuo é vital para que a inflação volte a ser bem comportada.

Serviços não residenciais

A dificuldade reside no fato de que os serviços não residenciais respondem pouco a eventuais gargalos de oferta nas cadeias produtivas, são em geral menos sensíveis à taxa de juros e intensivos em trabalho. Ao mesmo tempo, são altamente influenciáveis pela renda disponível e pela situação do mercado de trabalho. Há progressos, mas lentos, nesses dois indicadores.

O cenário risonho de uma queda por gravidade da inflação a partir de agora é o menos provável. O avanço do consumo em julho foi forte, mas pode arrefecer em seguida. A consultoria Oxford Economics aposta nisso, e em uma recessão leve a partir do último trimestre, porque a renda pessoal em julho subiu apenas 0,2% e a disponível não variou. A conclusão: é a poupança feita durante a pandemia que está impulsionando os gastos e ela está perto do esgotamento. Essa poupança atingiu 35% da renda pessoal no pico da pandemia e em julho caiu a 3,5%. Se esse cenário se confirmar, o Fed não teria mais motivo nenhum para aumentar os juros e começaria a cortá-los em meados de 2024.

A economia tem resistido aos juros altos por outro motivo, que é mencionado eventualmente e com discrição nas atas do Fed, que, por princípio, é muito comedido ao comentar assuntos sob jurisdição de poderes eleitos. Há um enorme impulso fiscal advindo de pacotes do governo Biden. O déficit público deverá fechar o ano em 6,3% do PIB, segundo a empresa de rating Fitch, um acréscimo nada modesto em relação aos 3,7% do PIB registrados em 2022, de US$ 660 bilhões.

Com a inflação ainda longe da meta, não será surpresa se o Fed elevar os juros no curto prazo, ainda que não na reunião de 20 de setembro. Nos EUA, como em certa medida no Brasil, a política fiscal vai em sentido oposto à política monetária, tornando mais lenta a queda da inflação.

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