Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Home em foco Após três anos de esfriamento nas relações diplomáticas, Brasil solicita autorização da China para abrir novo consulado

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Após três anos de esfriamento nas relações diplomáticas bilaterais causado pelos posicionamentos contrários à China do presidente Jair Bolsonaro, o governo brasileiro fecha o ano tentando um avanço com o seu principal parceiro comercial. O Itamaraty instruiu a embaixada do Brasil em Pequim a pedir a aprovação do governo chinês para a abertura de um novo consulado no país. O local escolhido para a quarta representação brasileira na China continental foi a cidade de Chengdu, capital da província de Sichuan, na região central do país.

A intenção, que havia sido mencionada há alguns meses pelo chanceler Carlos Alberto França, tornou-se oficial. A instrução foi enviada de Brasília na última segunda (27), dando seguimento a uma primeira sondagem feita junto ao Ministério do Exterior da China. Cabe agora ao governo chinês aprovar a abertura do consulado para que ele possa sair do papel. Atualmente, além da embaixada e do consulado em Pequim, o Brasil tem outras duas representações na China continental, em Xangai e Cantão. Há ainda um consulado em Hong Kong, território “autônomo” sob soberania de Pequim.

Na instrução enviada à embaixada em Pequim, o Itamaraty explica a criação do consulado em Chengdu observando que ela seria a primeira representação do Brasil na parte central da China, e serviria como uma importante plataforma para o incremento das relações comerciais, econômicas e de ciência e tecnologia com a região. Antes de 2020 havia cerca de 15 mil brasileiros residentes na China, mas a embaixada estima que esse número tenha diminuído consideravelmente desde o início da pandemia. Especificamente na jurisdição do novo consulado, a presença de brasileiros é mínima, portanto o principal interesse em abrir um escritório em Chengdu é mesmo o econômico.

De acordo com o comunicado do Itamaraty, os setores que mais interessam ao Brasil são agricultura, mineração, turismo, e indústrias farmacêutica e de alta tecnologia. É lembrado ainda que Chengdu é “cidade-irmã” de Recife, onde a China tem um de seus três consulados no Brasil. Os outros estão no Rio e em São Paulo.

Embora a princípio o governo chinês veja com bons olhos a abertura de um novo consulado, a primeira sondagem sobre o plano foi recebida com certa relutância por Pequim, com uma sinalização de que o aval seria uma concessão ao governo brasileiro e que não sairá sem uma contrapartida, segundo fontes que acompanham o assunto. Pequim mencionou a norma diplomática de equivalência no número de representações em cada país, sugerindo que poderia requerer a abertura de mais um consulado chinês no Brasil, onde já tem três.

É o mesmo número que o Brasil teria na China com a abertura em Chengdu (sem contar Hong Kong). Para fontes diplomáticas, a reação inicial morna é parte da estratégia de negociação chinesa, mas também reflete os ruídos dos últimos três anos na relação bilateral, que tornaram Pequim bem mais resistente a fazer concessões ao Brasil.

A província de Sichuan, da qual Chengdu é a capital, é a terceira mais populosa da China, com 83 milhões de habitantes, e tem metade do PIB do Brasil. A jurisdição do novo consulado abrangeria cinco províncias (Sichuan, Yunnan, Guizhou, Shaanxi e Tibete), mais a megacidade de Chongqing, numa área que no total tem uma população maior que a do Brasil. Seria a primeira representação brasileira fora da costa leste chinesa.

A localização central estratégica, que se alinha à política chinesa de estender o desenvolvimento da costa leste para o Oeste do país, adicionado às oportunidades de intercâmbio econômico e científico na região, já atraiu 19 países a criar consulados em Chengdu, cidade de 17 milhões de habitantes famosa pela gastronomia e por ser a capital mundial dos pandas. O mais recente foi o Chile, em julho. A Argentina também já sinalizou que irá fazer o mesmo.

Os Estados Unidos mantiveram um consulado na cidade até julho do ano passado, quando a China ordenou seu fechamento. Foi um ato de retaliação à decisão do governo americano, na época sob a presidência de Donald Trump, de fechar o consulado chinês em Houston sob a alegação de que ele abrigava ações subversivas e de espionagem econômica.

Promovida recentemente a ministra-assistente, a chefe do Departamento de Informação do Ministério do Exterior chinês, Hua Chunying, disse que a iniciativa brasileira é um bom sinal para as relações bilaterais. Questionada sobre as declarações de Bolsonaro contra seu país, ela indicou que a China tem sido comedida na resposta por respeito às tradicionais boas relações entre os dois países, e que elas são entendidas em Pequim como um aceno do presidente a sua base eleitoral. Mais importante que palavras são ações, disse.

O último consulado brasileiro criado na China foi em Cantão, em 2011. Chama a atenção que o Brasil esteja ampliando sua presença na China justamente durante um governo conhecido pelo antagonismo ao país asiático. Segundo uma fonte diplomática, isso pode indicar que o chanceler França tenha ganhado algum espaço para implementar uma política externa mais pragmática enquanto Bolsonaro se concentra em assuntos domésticos, preocupado principalmente com a sua campanha à reeleição.

 

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