Domingo, 25 de Maio de 2025

Home Ali Klemt Arrume o seu jardim

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Como me é de praxe todos os sábados, sento-me em frente ao computador para refletir sobre o tema que abordarei na nossa coluna dominical. E, não, infelizmente eu não deixo para escrever assim, em cima da hora, por uma preocupação com o factual, ou para garantir uma opinião atualíssima sobre o assunto momento. Não. Só consigo escrever no sábado porque essa minha vida de mãe, empresária, comunicadora, escritora, esposa, gestora do lar, pink boss Aliadas e novidadeira me deixa pouco (pouquíssimo) tempo livre durante a semana. E é preciso refletir para escrever. É preciso refletir muito para expressar em palavras que ficarão gravadas para sempre a nossa opinião. É muita responsabilidade.

Confesso que ando cansada de notícias ruins. E o mais interessante é que percebo uma clara tendência nesse sentido. Não sou apenas eu: todos estamos exaustos. Exaustos de tragédias, exaustos de polarização, exaustos de tentar derrubar a opinião que não me agrada. Basta observar as redes sociais: de forma sutil, muitos formadores de opinião e criadores de conteúdo têm trazido “bons ventos” em forma de boas notícias. Eu mesma, cansada de falar da roubalheira histórica do INSS, da Janja cada vez mais esperta (não paramos de falar nela!), na doideira generalizada dos bebês reborn e, claro, do mais absurdo tribunal do planeta (que vem a ser a nossa suprema corte), também passei a noticiar boas ações, iniciativas do bem e ideias que mudam o mundo, em um quadro do meu Instagram denominado “Aliviando”. Sim, uma junção de Ali + a sensação de algo que nos libera e, quem sabe, até aqueça o coração. Um alívio, enfim.

Vivemos tempos em que somos bombardeados, a todo momento, por notícias de conflitos do outro lado do mundo. Guerras, tragédias, decisões políticas distantes nos atravessam pelas telas. E é natural que sintamos vontade de opinar, de agir, de nos indignar. Mas será que estamos cuidando do nosso próprio jardim? Será que não usamos os dramas distantes como desculpa para não enfrentar as dores que vivem na porta ao lado?

Há uma sabedoria antiga que insiste em reaparecer com diferentes roupagens: comece por você, organize a sua casa, fortaleça a sua comunidade. Tolstói dizia que todos querem mudar o mundo, mas poucos querem mudar a si mesmos. Confúcio já ensinava que a harmonia social começa com a retidão individual. E não é isso que nos falta hoje? Um pouco mais de presença no agora, de responsabilidade com o entorno, de compromisso com o bairro, a escola, a praça da esquina. Antes de transformar o planeta, transforme a rua onde você mora. Arrume a própria cama!

Isso não significa se fechar ao mundo — pelo contrário. Significa criar raízes fortes para que possamos, com verdade, estender os galhos para além de nós. A chave está no equilíbrio.

O equilíbrio, porém, também nos obriga a não negarmos os absurdos que ocorrem por aí. Não nos permite fecharmos os olhos para as mais variadas nuances da maldade humana, e dos resultados que ela provoca. Por isso que acredito que, por uma questão de sobrevivência da espécie, é que o ser humano gosta tanto, mas tanto de manchetes de “sangue”. Precisamos nos abastecer do drama alheio. E, como uma boa otimista que sou, creio, de verdade, que seja por uma questão de proteção: é preciso propagar o drama e popularizar a história, julgar, opinar, discordar para, enfim, criar a ideia de censura social. E é a partir desta comoção que a comunidade se protege, moralmente, contra eventuais descumpridores dos padrões estabelecidos. E é também por isso, exatamente por isso, que assumo, diariamente, meu posto na bancada da tv: para ser voz de tantos e tantos que concordam com a minha opinião diante dessa infinidade de fatos bizarros com os quais nos deparamos por aí. É um trabalho de imensa responsabilidade, mas, também, de grande gratificação: sei que estou contribuindo com a minha comunidade, ao validar, reforçar, relembrar e lutar pelos valores e diretrizes em que acreditamos. Porque precisamos fazer a nossa cama, arrumar o nosso jardim e, só depois, sair para arrumar o mundo. É assim que me sinto.

O mundo não será salvo com discursos inflamados, mas com ações pequenas e consistentes. Quem tenta resolver tudo lá fora e esquece de si, perde a coerência. Eu o faço, diariamente. E compartilho meus ensinamentos para que outros assim também o façam. Dessa forma, bem resolvidos internamente, organizados em nosso pequeno núcleo familiar, cuidando das pessoas do nosso entorno e zelando pela nossa comunidade, aí sim, encontramos motivo – e força – para encarar as batalhas que esse mundão aí fora nos apresenta.

Comece em casa. Faça a sua cama. Arrume o seu jardim. Tenha certeza que ele floresce. Depois, é outra história.

Ali Klemt

ali.klemt

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