Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

Home Mundo Autor de livro sobre a vida das freiras diz que a Igreja precisa mudar o sistema que permite abusos contra as religiosas

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A rotina de abusos de poder, assédio moral, manipulações e chantagens contra mulheres que optaram por serem freiras é um assunto que tem atraído cada vez mais a atenção das autoridades da Igreja Católica. Um exemplo é um livro que acaba de ser publicado na Itália: “Il Velo del Silenzio” (“O Véu do Silêncio”), com o subtítulo “Abusos, Violências e Frustrações na Vida Religiosa Feminina”.

O autor é Salvatore Cernuzio, 34 anos, um jornalista que há uma década acompanha os temas da Igreja em Roma. Colaborador da Rádio Vaticano, órgão oficial da Santa Sé, ele passou um ano levantando os casos relatos no livro, publicado pela editora católica San Paolo.

São 11 relatos femininos de quem permanece na ativa ou que já abandonou a chamada “vida consagrada a Deus”. Elas contam anonimamente situações diversas de abusos cometidos pelas superioras, mulheres como as próprias vítimas, e os efeitos (inclusive psicológicos) dos anos de provação.

Com a chegada de papa Francisco, eleito em 2013, as mulheres ganharam um protagonismo inédito no Vaticano, mas a estrutura servil continua ativa, em Roma e em diversos outros lugares do mundo, em especial naqueles em que a posição da mulher na sociedade continua em segundo plano.

O pontífice tem reservado especial atenção para falar sobre os casos de assédio moral e sobretudo dos abusos de consciência, como é chamada a violação do foro íntimo, ou seja, os segredos da própria consciência compartilhados com Deus e que muitas vezes acabam virando instrumento de chantagem nas comunidades religiosas.

“Chegou às minhas mãos o livro de Salvatore Cernunzio publicado recentemente sobre o problema dos abusos. Não os abusos escancarados, mas os abusos cotidianos que fazem mal à força da vocação”, disse Francisco.

Problema estrutural

Para o vaticanista, um dos problemas está na formação das freiras, já que as madres responsáveis pelas congregações muitas vezes replicam a postura autoritária que as formaram. “A Igreja precisa mudar o sistema que permite os abusos contra”, defende.

Não por acaso, muitas das ex-religiosas alvo de assédio e abusos comparam o sistema interno das comunidades católicas aos regimes comunistas ou ao Exército. Embora a formação das religiosas tenha sido discutida no Concílio Vaticano 2º, realizado na década de 1960 para modernizar a Igreja Católica, pouco se avançou nesse sentido.

“O problema é o clericalismo, ou seja, utilizar a superioridade em razão do cargo. Esse clericalismo foi incorporado por mulheres que são madres superioras ou que têm funções de poder. Não é tanto uma questão de gênero, mas de hierarquia”, comenta Cernuzio.

Ele relata ter ficado horrorizado ao descobrir em Roma uma comunidade religiosa que atende mulheres marginalizadas. Muitas delas são ex-freiras que ficaram desamparadas, sem dinheiro e sem documentos, após desertar da vida religiosa.

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