Sábado, 18 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 23 de julho de 2022
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu elevar as taxas básicas de juros da zona do Euro pela primeira vez em mais de uma década. Diante da inflação galopante, temores de crise energética e perspectivas econômicas sombrias, a instituição optou por um aumento de juros de 0,5 ponto, ajuste maior do que o esperado, apesar do contexto da crise política italiana.
De acordo com observadores econômicos, o BCE optou pela ousadia: elevou suas três taxas principais em 50 pontos base, depois de ter lançado expectativas no mercado de um aumento de apenas 25 pontos. A decisão tem efeito a partir de 27 de julho.
Assim, a taxa de juros aplicável às operações principais passa de zero, o nível em que estava desde 2016, para 0,5%. A taxa de juros de empréstimos avança para 0,75% (antes 0,25%) e a taxa de depósitos, que tem sido negativa nos últimos oito anos, passa a 0% (frente aos anteriores -0,50%). Todas estavam em mínimos históricos.
A decisão sobre este aperto foi “unânime” face à inflação que “permanecerá em um patamar indesejável durante algum tempo”, declarou a presidente da instituição, Christine Lagarde. Os preços ao consumidor subiram 8,6% em junho, comparados com o mesmo período do ano passado, um recorde para a zona do euro e uma oscilação acima da meta anual de 2% do BCE.
O Banco Central tem o desafio de calibrar a taxa de juros para não agravar a crise econômica em uma zona já enfraquecida pelas dúvidas quanto ao abastecimento de gás e pela crise política na Itália. A soma dos efeitos da recuperação da atividade econômica pós-Covid e das tensões nas cadeias de suprimentos, além da crise energética por conta da ofensiva russa na Ucrânia, aumentam a complexidade da decisão.
A queda do valor do euro, cotado ao nível mais baixo em relação ao dólar em 20 anos, reflete os temores de que a União Europeia entre em recessão neste segundo semestre.
Taxas negativas
Com o aumento da taxa de juros, o BCE encerra uma era de taxas negativas, iniciada em 2014, e põe fim a uma década de política monetária generosa, que ajudou a economia a superar as crises dos últimos anos. “O horizonte econômico está escurecendo”, resumiu Lagarde, afirmando que as perspectivas se deterioram “para o segundo semestre de 2022 e além”.
Ela declarou ainda que o BCE está atento à questão da energia e “em particular ao gás”, devido ao seu impacto nos preços da eletricidade e na inflação.
A imprensa europeia saudou a decisão do BCE de “enfim” subir o índice. “Alguns julgarão que essa iniciativa é tímida ou tardia demais, mas ninguém terá muito o que criticar: a inflação está tão forte na Europa, que todas as iniciativas visando parar a valsa das etiquetas de preços devem ser adotadas”, publicou o Le Figaro.
Em um vislumbre de esperança, a economia europeia continua, de acordo com o BCE, a se “beneficiar” do levantamento das restrições sanitárias e da retoma da atividade econômica, especialmente o setor do turismo.