Terça-feira, 30 de Abril de 2024

Home Brasil Banqueiro do jogo do bicho no Rio teve a seu serviço 101 policiais

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Na noite de 12 de março de 2021, a Justiça do Rio decretou a prisão do bicheiro Rogério de Andrade. A notícia logo repercutiu entre os integrantes de sua escolta pessoal. Na teoria, a obrigação dos mais de 20 policiais militares que faziam parte do grupo era denunciar o paradeiro do bicheiro às autoridades ou até dar voz de prisão a ele.

Não foi o que aconteceu: nos meses seguintes, os agentes da lei trabalharam para proteger Andrade enquanto ele se escondia da Justiça num sítio em Araras, na Região Serrana do Rio. Enquanto o mandado de prisão esteve em vigor, o bicheiro jamais foi encontrado. As mensagens serviram de base para a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ) que desencadeou a Operação Pretorianos, do mês passado, contra 30 policiais e ex-policiais que faziam a segurança pessoal de Andrade.

Maioria PMs

Os tentáculos do bicheiro na polícia, no entanto, são ainda mais profundos. Desde 1998, 101 agentes oriundos de forças de segurança foram acusados de trabalhar para Andrade. Ao todo, 79 policiais militares, 14 policiais civis, seis bombeiros, um policial federal e um policial penal já foram associados à tropa do bicheiro nas últimas três décadas.

Do total de agentes levantados, 46 atuavam na escolta de Andrade ou de parentes, como os alvos da Operação Pretorianos. Outros 26 foram acusados de trabalhar na segurança de pontos de jogo do bicheiro e 11 são apontados como matadores de aluguel contratados por ele. Há também policiais acusados de serem sócios de Andrade no jogo ilegal, de distribuírem e receberem propinas para garantir a manutenção dos negócios e até um agente que atuava como contador da quadrilha.

Alguns dos identificados no levantamento trabalham para Andrade há pelo menos 26 anos. É o caso do ex-PM Daniel Pinheiro e do sargento Márcio Araújo, que atuava na segurança dos pontos de jogo de Andrade.

Pinheiro foi expulso da PM em 2022 após ser flagrado num vídeo escoltando o chefe num hospital na Barra da Tijuca. Denunciado à Justiça em 2022 por integrar a quadrilha de Andrade, ele está foragido até hoje.

Já Araújo chegou a ser preso em 2021 sob suspeita de envolvimento no homicídio de Fernando Iggnácio, rival de Andrade na guerra pelo espólio criminoso de Castor, mas foi solto dois anos depois, beneficiado por uma decisão do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF). Em liberdade, ele conseguiu, na Justiça, cassar a decisão que o expulsou da PM e foi reintegrado.

Três dos agentes que foram alvos da operação do mês passado já haviam sido flagrados anteriormente fazendo a escolta de Andrade. Uma planilha aponta que cada um recebia R$ 5,6 mil mensais como guarda-costas do bicheiro.

‘Trezentinhos’

Entre os policiais civis ligados a Andrade, há tanto delegados acusados de receber propina para não combater a quadrilha do bicheiro como também agentes que atuavam a favor dos interesses de Andrade dentro da corporação. É o caso do inspetor Hélio Machado da Conceição, o Helinho, preso durante a Operação Gladiador, da Polícia Federal, acusado de receber um “prêmio” de Andrade pela prisão de seu rival Fernando Iggnácio, em 2006. Num diálogo, um comparsa afirma que Helinho “engordou uns trezentinhos” — ou seja, recebeu R$ 300 mil, segundo a PF — só porque havia aparecido na capa dos jornais conduzindo Iggnácio. A mesma investigação culminou na prisão — e posterior condenação — de Álvaro Lins, ex-chefe de Polícia, acusado de favorecer a quadrilha de Andrade em meio à guerra contra Iggnácio.

Outro ex-oficial ligado a Andrade é o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, fundador do Escritório do Crime e apontado pelo Ministério Público do Rio como um dos principais matadores de aluguel que agiam a mando do bicheiro.

Sociedade em bingo

Há agentes que ascenderam no crime e viraram sócios de Andrade, como um ex-policial federal investigado na Operação Gladiador. O ex-sargento da PM Ronnie Lessa, acusado de ser o executor de Marielle Franco, é outro agente que estreitou seus laços com o bicheiro: segundo o Ministério Público do Rio, ele se tornou sócio do sobrinho de Castor num bingo no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca, nos meses seguintes ao homicídio da vereadora.

Tornozeleira

Atualmente, Rogério de Andrade responde pelos crimes de organização criminosa e corrupção passiva em regime domiciliar. Sua defesa já solicitou ao STF a retirada da tornozeleira e aguarda a decisão do ministro Nunes Marques. Ele nega todas as acusações feitas pelo MPRJ.

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