Segunda-feira, 06 de Maio de 2024

Home Saúde Beber “socialmente” também traz riscos à saúde

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O vinho com as amigas, a cervejinha que desinibe, o uísque que ajuda a relaxar na poltrona da sala de casa após o expediente. O hábito de beber de forma moderada, “socialmente”, sem dependência, parece só ter benefícios, especialmente no contexto de tensão da pandemia. Mas os especialistas da área de saúde sugerem cautela também quando o consumo é considerado “moderado”, já que os riscos existem mesmo quando as doses são pequenas, e variam de uma pessoa para outra.

Quando um paciente diz que “bebe socialmente”, o gastroenterologista Roberto José de Carvalho Filho costuma perguntar: “Mas qual é o seu padrão social?”. Professor da Universidade Federal Paulista (Unifesp) e responsável pelo Laboratório de Doença Hepática, Carvalho observa que é muito comum uma pessoa acreditar que está fazendo uso social moderado quando, na verdade, está fazendo uso abusivo do álcool, nocivo para a sua saúde.

E, quanto mais frequente e maior a quantidade desse consumo, maior é a possibilidade de desenvolver doenças cardíacas, do fígado, gastrointestinais e transtornos mentais, entre outros problemas de saúde – segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo abusivo de álcool está associado a 200 doenças. De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), realizado em setembro de 2021, 55% dos brasileiros com mais de 18 anos consomem bebidas alcoólicas e 32% bebem semanalmente.

Carvalho explica que cada pessoa tem uma sensibilidade diferente para o álcool e que o risco do consumo varia conforme fatores como sexo, doenças associadas e predisposição genética. “Por conta dessa variação, é perigoso definir um limite de bebida para uma pessoa. É verdade que o consumo ocasional traz um risco menor, mas ao mesmo tempo esses fatores devem ser levados em consideração”, alerta. “É duro dizer isso, mas a ciência tem mostrado que não existe consumo de álcool sem risco.” Segundo ele, até os benefícios do vinho para o coração estão em xeque: “Já sabemos que uma pequena dose de vinho diminui o risco de enfarte, mas aumenta o risco de derrame.”

A ingestão de álcool está associada a sete tipos de câncer, afirma o oncologista clínico e sanitarista Ronaldo Corrêa, pesquisador da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo o especialista, a ingestão de álcool, mesmo em doses mínimas, aumenta o risco de desenvolver câncer.

Quanto maior a dose e maior a frequência de consumo, maior o risco. Ele também afirma que há um efeito “cumulativo” nocivo do álcool: se o uso é frequente, os tecidos não têm tempo para se recuperar – por isso, alguns dias de “pausa” na bebida são importantes.

Já foram identificados diversos mecanismos de formação do câncer que envolvem o álcool, segundo Corrêa. Um deles tem a entrada de agentes cancerígenos nas células facilitada pelo álcool, que funciona como um “solvente” para substâncias nocivas, presentes em alimentos e poluição, por exemplo.

O oncologista explica que, nas mucosas que entram em contato com a bebida alcoólica, como a boca, a faringe, a laringe e o estômago, o risco relativo (em relação a quem é abstêmio) de desenvolver câncer nessas áreas é mais alto do que quando o contato com o álcool é “indireto”, caso de câncer de mama, fígado e colorretal.

Diante da verdade inconveniente de que não há como apontar limite seguro para a saúde no consumo de álcool, qual seria a atitude mais cuidadosa para quem não abre mão do prazer da bebida? Estar com check-up médico em dia é o primeiro passo, recomenda o endocrinologista Fábio Rogério Trujillo. “Se indicadores dos exames de rotina como enzimas hepáticas ou triglicérides não estiverem alterados, o risco de consumir bebidas alcoólicas de forma moderada é baixo, embora não seja possível garantir a segurança”, ressalta.

O problema é que nem sempre as pessoas têm percepção real das quantidades ingeridas. Trujillo conta que teve um paciente que dizia tomar apenas “um cheirinho” de uísque após o trabalho, todos os dias. Porém, começou a perceber que a garrafa secava rapidamente. Suspeitou dos funcionários da casa, mas, ao checar as imagens da câmera de segurança, percebeu que o “culpado” era ele. “O comportamento de minimizar o consumo de álcool é bem comum”, afirma o médico.

Mas o que é considerado um consumo “moderado” pelos profissionais de saúde? Para a OMS, o recomendável é não exceder 2 doses-padrão (10 gramas) de etanol puro por dia e ficar sem beber durante pelo menos dois dias da semana. Isso significa que a quantidade de bebida vai variar conforme o porcentual etílico dela. Nos padrões da entidade, então, uma pessoa saudável tem como limite beber até 500 ml de cerveja por dia ou 200 ml de vinho, até 5 vezes por semana.

Outro parâmetro respeitado pelos especialistas é o do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (Niaaa), que considera que a dose-padrão tem 14g de etanol puro, recomendando o limite de 14 doses semanais para os homens, sem ultrapassar duas doses por dia, e sete doses para mulheres, que não devem ultrapassar uma dose-padrão por dia. Ou seja, para uma mulher saudável não é recomendável pela Niaaa beber por dia mais do que 350 ml de cerveja ou 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado (vodca, uísque), enquanto o parâmetro dos homens tem o dobro desse limite.

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