Sábado, 04 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 4 de outubro de 2025
A pouco mais de um mês da abertura oficial da COP30, Belém do Pará se encontra no epicentro das atenções globais. Sede da conferência mais importante do mundo sobre mudanças climáticas, a capital paraense vive uma corrida contra o tempo para se preparar e deixar tudo pronto para receber mais de 50 mil participantes, entre chefes de Estado, cientistas, ativistas, jornalistas e representantes da sociedade civil de cerca de 178 países.
Apesar de alguns tropeços – como críticas pelo corte de árvores para abertura de estradas, uso de práticas não sustentáveis, greve de trabalhadores responsáveis pelas obras e a especulação nos preços das hospedagens – Belém está a um passo de fazer história e se tornar a capital do Brasil e do mundo entre os dias 9 e 21 de novembro.
A escolha da cidade-sede carrega um peso simbólico e estratégico. Pela primeira vez, o evento será realizado no coração da Amazônia brasileira – bioma que, além de ser essencial para o equilíbrio climático do planeta, é também território de conflitos fundiários, desigualdades históricas e desafios urgentes de infraestrutura urbana. A COP30, portanto, representa uma oportunidade sem precedentes para o Brasil mostrar sua capacidade de liderança ambiental e, ao mesmo tempo, transformar uma realidade local.
Mesmo diante das dificuldades, a conferência continua sendo uma oportunidade valiosa. A cidade recebe investimentos em saneamento, mobilidade urbana e conectividade, que podem deixar um legado duradouro para seus habitantes. Projetos como o Parque da Cidade, novas ciclovias e sistemas de esgoto em bairros periféricos são exemplos concretos de como o evento já está transformando Belém.
A realização da COP30 também representa um teste diplomático para o Brasil. O país terá de equilibrar seu papel de anfitrião com sua responsabilidade como liderança climática do Sul Global. O governo já sinalizou que a conferência deve marcar um novo momento da política ambiental brasileira — mais comprometida, mais aberta ao diálogo e menos permissiva com o desmatamento.
Vale lembrar que a Amazônia é uma das regiões mais sensíveis e ameaçadas pelos eventos climáticos extremos. Em menos de um ano, a floresta enfrentou dois episódios severos em sequência: o rio Madeira sofreu uma enchente histórica em 2025 e, poucos meses antes, uma das secas mais intensas já registradas, em meados de 2024. O intervalo entre a cheia e a seca foi inferior a um ano na mesma região, revelando um contraste drástico que evidencia a crescente instabilidade climática na maior floresta tropical do planeta.
Essa oscilação extrema, resultado da combinação entre o aquecimento global e fenômenos como o El Niño, comprometeu a navegabilidade dos rios, afetou o abastecimento de comunidades ribeirinhas e provocou impactos profundos na biodiversidade. Esses episódios reforçam a urgência de políticas climáticas mais eficazes, especialmente em um bioma-chave como a Amazônia, cuja saúde ecológica tem repercussões planetárias.
Em última análise, o sucesso da COP30 não será medido apenas pela pontualidade das obras ou pelo glamour dos eventos paralelos. Ele será avaliado pela capacidade do Brasil de criar pontes entre o local e o global, entre a floresta vulnerável e os fóruns multilaterais, entre as promessas e as ações concretas.
Belém corre, sim, para deixar tudo pronto. Mas é preciso lembrar que, mais do que preparar uma cidade, é necessário preparar um legado. A COP30 pode ser o início de uma nova narrativa para a Amazônia – mas só se o palco for montado com justiça social, transparência e compromisso real com o futuro.
Estaremos acompanhando para o Jornal O SUL, diretamente do Parque da Cidade, palco do esperado evento.
(Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista da Transição Energética)