Domingo, 19 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 19 de agosto de 2023
Menos de dois meses depois de ser declarado inelegível por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) viu se abrirem, nesta semana, novas crises ligadas a duas grandes investigações que o citam como figura central.
Na primeira investigação, a Polícia Federal apura um suposto “esquema”, nas palavras do Supremo Tribunal Federal (STF), de venda ilegal de joias dadas como presentes ao governo brasileiro.
De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), estes presentes deveriam ser encaminhados ao acervo da União, e não negociados para enriquecimento pessoal do ex-presidente ou pessoas próximas.
Na segunda investigação, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura os atos de 8 de janeiro a favor de Bolsonaro debateu nos últimos dias o suposto envolvimento direto do ex-presidente em propostas de acobertamento de crimes, sabotagem de urnas e do sistema eleitoral brasileiro.
Ao longo desta semana, a situação jurídica de Bolsonaro se agravou, na avaliação de professores de Direito, com novas operações judiciais, depoimentos e confissões de rivais e aliados próximos.
Para Flaviane Barros, professora de Direito Penal da PUC-Minas, “a situação do ex-presidente como investigado em termos de fatos penais teve mudança considerável” após as revelações desta semana.
Na avaliação do professor de Direito Penal da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Davi Tangerino, “os elementos de prática de delito por ele (Jair Bolsonaro) vão se avolumando”.
Pior dia
A quinta-feira (17), até agora, foi o dia mais duro contra Bolsonaro.
O ex-presidente estaria prestes a ser apontado nominalmente como mandante e beneficiário da venda ilegal de joias dadas de presente ao governo brasileiro, declarou Cezar Bittencourt, advogado do ex-ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro, Mauro Cid, na principal crise inaugurada nesta quinta.
Segundo Bittencourt afirmou à revista Veja, o tenente-coronel Cid vai confessar ao Supremo Tribunal Federal que entregou a Bolsonaro centenas de milhares de reais conseguidos com a suposta venda ilegal de relógios nos Estados Unidos.
O ex-presidente nega todas as acusações. Bolsonaro descreveu a estratégia do advogado de Cid como “camicase”, afirmou que não recebeu valores em espécie de Cid e que não pediu pra que bens fosses vendidos. Ele disse ainda que “Cid está preso há muito tempo e, por isso, é capaz de falar qualquer coisa pra sair da cadeia”.
Na sexta-feira, o advogado recuou e negou ter afirmado à revista que o militar confessaria algo relativo às joias. A Veja, então, respondeu publicando os áudios da entrevista e mostrando que o advogado realmente disse o que foi originalmente publicado.
À BBC News Brasil, criminalistas apontam entre os possíveis crimes de Bolsonaro no caso, se declarado culpado, peculato (pelo desvio das joias), lavagem de dinheiro (pela ocultação do proveito do crime) e descaminho (caso os bens sejam reconhedos como dele).
As declarações desta quarta indicam mudança significativa na postura de Cid, preso desde maio e até então descrito como leal ao ex-presidente.
Bittencourt, que assumiu a defesa de Cid há três dias, é o terceiro advogado do caso desde que ele foi preso, em maio, por supostas fraudes no cartão de vacinação de sua família, do ex-presidente Bolsonaro, e de pessoas ligadas a ele.
As trocas recorrentes, avaliam advogados ouvidos em anonimato pela reportagem, sugerem “dificuldade” e “conflitos de interesse” na linha de defesa do tenente-coronel, cuja carreira militar em ascensão foi duramente interrompida.
Mais problemas
Na mesma quinta-feira, uma segunda crise estourou quando o hacker Walter Delgatti disse à CPI dos Atos Golpistas que Bolsonaro o contratou para fraudar urnas e o processo eleitoral, ofertou um indulto em caso de condenação por crimes e pediu que ele assumisse a autoria de suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes.
A defesa de Bolsonaro descreveu as falas de Delgatti como falsas e desprovidas de prova em nota enviada ao Jornal Nacional. O time do ex-presidente apontou que as declarações contêm, em tese, o crime de calúnia e que adotará as medidas judiciais cabíveis.
No fim da mesma quinta-feira, dando início à terceira crise do dia, Alexandre de Moraes determinou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-presidente e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além de autorizar um pedido de cooperação internacional com autoridades do Estados Unidos.