Sexta-feira, 31 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de julho de 2023
 
Pesquisadores brasileiros e europeus publicaram nesta sexta-feira (28) uma carta conjunta pela restituição ao Brasil do fóssil do dinossauro Irritator challengeri, atualmente na Alemanha, depois de ter sido contrabandeado do Brasil.
O fóssil, considerado o crânio mais completo e preservado dos dinossauros de seu tipo, foi tema de um artigo científico publicado em maio deste ano por cientistas alemães e franceses. Eles fizeram uma nova análise do crânio e chegaram a conclusões inéditas sobre a espécie. Desde 1996, esse fóssil é classificado como um holótipo, peça que serve como base para descrição de uma espécie e, portanto, é de importância ímpar para a ciência.
No estudo deste ano, os pesquisadores europeus reconheciam o “status possivelmente problemático” do fóssil, comprado pelo Museu Estadual de História Natural de Stuttgart de um comerciante de fósseis em 1991. O comerciante, por sua vez, teria importado o fóssil para a Alemanha antes de 1990.
O problema é que desde 1942 todos os fósseis encontrados em território brasileiro são propriedade da União e não podem ser comercializados. A exportação para fins científicos depende de autorização governamental, não pode ser permanente e costuma exigir o envolvimento de cientistas brasileiros nas pesquisas.
Essas condições não foram demonstradas pelos pesquisadores europeus no caso do Irritator, causando revolta na comunidade científica. O documento é endereçado à ministra da Ciência, Pesquisa e Arte do Estado de Baden-Württemberg, província onde está localizado o Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, que detém o fóssil brasileiro.
Quando o artigo científico foi publicado pelos pesquisadores europeus, o paleontólogo Juan Cisneros, professor da Universidade Federal do Piauí e um dos autores da carta aberta, denunciou o caso ao Ministério Público Federal no estado.
De acordo com o procurador, o Ministério das Relações Exteriores foi procurado para informar eventuais providências que já foram ou estão sendo tomadas para a recuperação do fóssil.
O contrabando de fósseis é um problema global que ainda afeta a Bacia do Araripe, que se estende pelo Ceará, Piauí e Pernambuco e é uma das mais ricas do mundo nessas peças. Foi nela que, muito provavelmente, o Irritator foi encontrado. Fósseis extraídos na região são vendidos em alguns casos por milhares de dólares no exterior.
Diante dos questionamentos sobre a legalidade da posse alemã, a revista científica Paleo Electronica chegou a suspender, por duas semanas, a publicação do artigo.